O Brasil perdeu nesse domingo um músico dos mais talentosos – o violinista Gustavo Menezes, que sofreu um infarto aos 48 anos. Carioca, nascido no bairro tradicional de Santa Teresa, era o caçula de cinco irmãos – o mais velho deles, o violoncelista brasileiro Antonio Meneses. Entre um e outro, na escadinha, Eduardo, Ricardo e João – todos músicos profissionais, e de cordas. O pai da tropa era João Jerônimo, trompista pernambucano que se radicou no Rio de Janeiro no final dos anos 1950 e integrou a orquestra do Theatro Municipal carioca.
Gustavo fez sua formação com João Daltro de Almeida, Bernardo Bessler e Paulo Bosísio, graduou-se na UNIRIO, acompanhou masterclasses e aulas de aperfeiçoamento com Belkin, Pressler, Fodor e Domenico Nordio, entre outros. Era um músico especialmente querido – e, além do talento no violino, tinha interesses em filosofia e humanidades em geral.
Integrou várias orquestras sinfônicas e grupos de câmera. Ocupou a cadeira de spalla diversas vezes, inclusive no Municipal e na Petrobras Sinfônica, as duas orquestras em que seguia atuando. Foi solista em concertos no Brasil e no exterior. E ainda dava suas próprias master classes e aulas, inclusive no projeto da Academia Juvenil da Petrobras Sinfônica.
Em depoimentos ao Site CONCERTO, colegas e personalidades do meio musical lamentaram a morte do violinista.
“Gustavo era uma das pessoas mais ternas e carinhosas que eu conheci no meio musical. Um excelente colega, um excelente músico, que considero minha cria, desde os tempos da Petrobras Pró-Música, quando o trouxe, com Felipe Prazeres, para ser spalla. Considero os dois meus filhotes. É uma perda muito grande para o meio musical brasileiro.” [Roberto Tibiriçá, regente]
“Fiquei atônito com a notícia. É difícil acreditar que Gustavo tenha partido de repente. São vívidas as lembranças de nossos contatos musicais na OPES e nas conversas sobre literatura e filosofia, uma rara conjugação de interesses num jovem artista. Ele vem de uma família de grandes músicos, desde o pai, o trompista João Jerônimo, até os irmãos, com quem tive a honra de trabalhar. Gustavo fará falta. Inteligente, sensível e leal, tinha uma musicalidade que irradiava de seu violino. Sem ele, estamos muito mais pobres.” [Isaac Karabtchevsky, regente]
“Existem pessoas que vieram a este mundo tão acima das pequenezas humanas que sequer aparecem nos nossos radares. Elas voam tão alto que a gente nem enxerga. Assim era o meu amado amigo Gustavo Menezes. Sua música, sua doçura, sua alma de artista, sua paixão pela obra de Bach foram os melhores presentes da minha juventude. Nos conhecemos em 1991, no Festival de Música de Juiz de Fora, e ele virou um membro da família. Quando me sentia sozinho em Berlim, após a perda do meu pai, chegaram pelo correio dois livros que ele havia me enviado: A Morte e a Morte de Quincas Berro D’água (Jorge Amado), com que ele me ligou à Bahia. O segundo, Viva o Povo Brasileiro (João Ubaldo Ribeiro), me fez entender o Brasil. Intelectual nato, ele sempre guiou meus passos pela literatura. E quis o destino que recebesse a notícia da sua partida aqui em Itaparica, terra de João Ubaldo, mestre que ele tanto venerava. Vai em paz, amigo. Que a música de Bach continue abençoando a nossa amizade. Um dia a gente vai se abraçar e escutar juntos a Missa em Si Menor.” [Carlos Prazeres, regente]
"Gustavo era como um irmão. Devo muito a ele, inclusive na minha formação como spalla. Ele estava do meu lado desde o ano 2000, como concertino da Petrobras Sinfônica. Um companheiro maravilhoso, na música e no cotidiano, um cara de enorme inteligência, cultura e perspicácia. Estou totalmente sem chão, pela falta do amigo e do músico Gustavo Menezes." [Felipe Prazeres, violinista e maestro]
"A triste notícia da morte precoce de Gustavo Meneses tomou de surpresa o meio musical. Esses tempos difíceis ceifam o nosso sonho de que um dia tudo voltará a ser como antes. Gustavo nasceu com DNA de músico, tornou-se excelente violinista e fez de seu ofício a arte do encontro. Deixa amigos, muitos amigos nas orquestras e grupos de câmara por onde passou. Tive o privilégio de conviver com Gustavo no Theatro Municipal, na Sala Cecília Meireles e em outros projetos artísticos de que participamos. Meus sentimentos e abraço afetuoso a Antônio, Joao, Eduardo, Ricardo e toda a família. Seu sorriso gentil vai deixar saudade." [João Guilherme Ripper, compositor, presidente da Academia Brasileira de Música]
"Gustavo foi um querido amigo que a música me trouxe, antes mesmo de trabalharmos juntos no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Tínhamos muito em comum: amigos, gostos musicais, interesses por livros, ideias e um grande amor pelo TMRJ. E acima de tudo, um grande respeito e admiração mútuos. É mais um grande artista que perdemos e, definitivamente, uma enorme tristeza a notícia de sua partida." [Tobias Volkmann, maestro]
"Eu me lembro com muito carinho do Gustavo nos meus concertos com a orquestra, sempre como concertino ou como spalla. Gustavo, além de um músico excepcional, era uma grande figura dessa família de músicos maravilhosos. Adorava sair com a gente depois dos ensaios para conversas deliciosas sobre política e artes em geral. Estou muito triste. Vai rolar muita saudade! Que ele siga em paz!" [Wagner Tiso, compositor e arranjador]
“Uma grande pena, um músico importante do nosso cenário, muito atuante e muito querido.” [Daniel Guedes, violinista]
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