O mundo musical carioca ficou bem mais pobre hoje – morreu Lauro Gomes Pinto, uma das figuras tradicionais e queridas do rádio brasileiro. Simpático, elegante nas maneiras e carinhoso, Lauro produziu algumas notáveis entrevistas, como alguns dos poucos registros radiofônicos longos com Bidu Sayão e Guiomar Novaes, por exemplo.
Ele tinha 83 anos – faria 84 em poucos dias. Até o ano passado, não perdia um concerto importante da cidade. Deixou a Rádio MEC em 2014, numa reestruturação dos quadros da emissora federal que infelizmente afastou, na criação da EBC – Empresa Brasil de Comunicação, muitos produtores que não eram concursados ou como, no caso dele, já estavam aposentados e haviam sido recontratados como celetistas. É algo de se pensar se, nas searas artística e de pensamento, as regrinhas do serviço público não podem ter exceções estabelecidas. Essa decisão foi uma lástima: Lauro amava o rádio, conhecia o veículo, dava espaço importante à arte musical e lírica e sabia do que falava.
Depois que saiu da rádio, criou uma página na internet onde continuava a entrevistar e comentar, sempre bem recebido pelos artistas. Fazia muita falta na MEC. O programa “Música e Músicos do Brasil”, que ele assumiu em 1980, era de uma riqueza democrática espetacular – levava ao ar gente nova e gente consagrada.
Foi o primeiro a gravar as memórias da emissora num projeto de registro. Diz o gerente da MEC, Thiago Regotto: “A versão integral será arquivada e estará disponível para consulta tanto dos colaboradores da Empresa Brasil de Comunicação quanto de pesquisadores externos, e sua versão editada será veiculada pela emissora na série Memória Rádio MEC, ilustrada com programas históricos do nosso acervo”.
Mas, de novo: Lauro amava seu trabalho. Era visível seu prazer de frequentar os concertos e acolher os artistas. A história de sua entrada no rádio é divertida – foi uma aposta com o amigo Reinaldo Magalhães, na época assessor artístico da diretoria da ME, que o desafiou a produzir um programa. Isso foi em 1974. Dali, até sua saída – uma perda, mesmo –, não deixou de militar pela música.
Lauro morreu de parada cardíaca, no hospital onde tratava um câncer descoberto há pouquíssimo tempo. Se existe um palco e uma plateia em algum lugar fora dessa dimensão, o concerto que celebrará sua chegada vai ser sensacional.
Leia mais
Notícias Festival Concertos na Serra ocupa igreja centenária no interior de São Paulo
Notícias Fabio Zanon homenageia Julian Bream na Sala Cecília Meireles
Notícias Sem público, Filarmônica de Minas Gerais abre série sobre orquestras
Notícias Simpósio Mulheres Regentes lança manifesto contra discriminação no meio musical
É preciso estar logado para comentar. Clique aqui para fazer seu login gratuito.
Comentários
Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não refletem a opinião da Revista CONCERTO.