Rio Cello Encounter completa 25 anos fazendo “milagre”, diz David Chew 

por Luciana Medeiros 06/08/2019

Há 25 anos, o sonho de um britânico apaixonado por Villa-Lobos se traduziu no primeiro Rio Cello Encounter, um evento que nasceu sob o signo do idealismo – e que segue, em 2019, como uma espécie de clube de amor à música. 

O violoncelista David Chew, já radicado no Brasil, faz agora em agosto a celebração desse quarto de século com a edição do RCE em quatro cidades, na base do voluntariado geral. “Estamos sem patrocínio pelo terceiro ano e isso não desanima ninguém”, assegura Chew. “Conseguimos alguns apoios de consulados e uma ajuda do SESC na hospedagem e na verba simbólica para artistas de fora; a maioria está pagando suas próprias passagens.” 

Até 19 de agosto, o festival ocupa 14 palcos na cidade do Rio de Janeiro e promove eventos ainda em Cabo Frio, Volta Redonda e Florianópolis. “É muita coisa, mas vai acontecer um milagre. Sempre acontece!”, ele garante.

O motor inicial – o tal início idealista – foi uma tragédia, conhecida como a Chacina da Candelária: oito jovens e crianças de rua foram assassinados em frente à igreja centenária, no centro histórico do Rio. Chew tentou ajudar uma das sobreviventes recolhidas a um abrigo com música. “Eu tocava e ela só chorava. À noite, eu é que chorava e não conseguia dormir. Foi quando decidi fazer o Rio Cello Encounter. Começou como um chamado e se tornou uma grande família, todo mundo quer voltar mesmo sem cachê.”

Pouco antes do primeiro evento, David já tinha formado um octeto de violoncelos, o Rio Cello Ensemble, que sobrevoava a fronteira entre clássico, jazz e MPB com desenvoltura – formação villalobiana, usada nas Bachianas n° 1 e n° 5. Desde a primeira edição, o encontro já mesclava gêneros musicais, abraçando mais tarde a dança e até as artes plásticas, além das master classes e oficinas. “O Cello Dance, por exemplo, acontece há 13 anos e acho fundamental expandirmos o olhar e os ouvidos, sem preconceitos. Esse ano, temos muito jazz, street dance e tango contemporâneo, violoncelos eletrônicos; no dia 17, a OSB celebra conosco seus 79 anos, com o concerto de Elgar – o inglês Colin Carr é o solista – e, no dia seguinte, Victor Biglione faz um programa com Led Zeppelin, a bordo de 16 cellos e banda, os dois eventos na Sala Cecilia Meireles”, conta Chew, que segue desfiando números astronômicos desses 25 anos: pelos cálculos da produção, foram mais de meio milhão de espectadores, no Brasil e, nos últimos três anos, em concertos na Europa com a chancela do festival.

A formação de músicos e de plateia tem ainda a participação do projeto de Volta Redonda, cuja orquestra de cordas toca domingo, no Dia dos Pais, na Candelária. David Chew celebra ainda o que chama de “sementes que explodiram”:  alunos das primeiras edições que retornam para tocar e ensinar. “E vejo muitos grupos pelo Brasil inspirados no que se faz aqui, no Rio Cello. Até meus filhos são voluntários”, ele ri. “Esse é o nosso maior tesouro, a educação para a arte. Crianças fazendo música! Pena que o governo não aprecia. Mas seguimos, e só tenho a agradecer a todos os músicos e ao público”.

Clique aqui para conhecer a programação completa do Rio Cello Encounter.

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David Chew [Divulgação]
David Chew [Divulgação]

 

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