Em março, no início do isolamento por conta do Covid-19, o cravista e professor Marcelo Fagerlande começou a considerar a possibilidade de realizar a Semana do Cravo virtual. O que não admitia era suspender a 17ª edição do evento, o mais importante encontro de instrumentistas e acadêmicos em torno do instrumento.
“No Brasil é tudo tão frágil e efêmero na nossa área, que é importante a continuidade”, conta ele de Itaipava, onde montou sua base logo no início da pandemia. “Só que esse ano vamos nos concentrar nas mesas de debates, sem os recitais, por diversos motivos. Principalmente porque perde-se muito na transmissão, em especial com o cravo, que depende muito dos harmônicos, com toda a delicadeza e intimidade que lhe é peculiar; e porque diversos alunos, que estão em geral no palco para os eventos musicais da semana, às vezes não têm cravo em casa, ou não dispõem de internet potente.”
A Semana do Cravo 2020 começa, portanto, nessa segunda-feira, dia 5, com mesas-redondas e debates, seguindo até o dia 9. A escolha do cravista homenageado deste ano trouxe mais emoção: o canadense Kenneth Gilbert, decano do instrumento, investigador pioneiro, que acabava de falecer aos 88 anos. “Ele veio ao Brasil nos anos 1990, amava o país e a MPB”, lembra Fagerlande. “O trabalho de Gilbert é fenomenal, é um dos maiores divulgadores do Barroco francês. Foi um divisor de águas.”
O lado bom da edição virtual é o da participação de nomes do mundo inteiro. “Há gente que nunca poderíamos ter no evento, pelas limitações de orçamento para passagens internacionais, mas esse ano a lista é grande e estamos felizes com as presenças de brasileiros morando no exterior, como Ilton Wjuniski, brasileiro do Conservatório Claude Debussy, em Paris.”
Entre os estrangeiros, grandes estrelas como Olivier Baumont, do Conservatório Nacional Superior de Música de Paris; Reinhard von Nagel, do atelier de construção de instrumentos Von Nagel, Paris; e Rachelle Taylor, da Universidade McGill, de Montreal. “Os três, Baumont, von Nagel e Taylor estarão na mesa de abertura, falando de Kenneth Gilbert”, conta Marcelo, que divide a coordenação da Semana do Cravo com a ex-aluna Mayra Pereira, professora da Universidade Juiz de Fora.
Temas como o ensino de cravo para crianças e para a terceira idade estarão no cardápio de discussões (veja aqui a programação completa) e as mesas trazem pesquisas e novidades do mundo acadêmico. Pela primeira vez, foram aceitos trabalhos inscritos, e não apenas de professores convidados. Quem quiser acompanhar os debates, pode se inscrever como ouvinte nesse link.
Marcelo Fagerlande acredita que o mundo vai mudar em muitos aspectos, depois dessa fase de cuidados sanitários em relação à epidemia. “Acho que não voltaremos ao que existia antes. Espero que as boas ferramentas permaneçam e que a gente valorize mais os momentos de congraçamento. Eu me tornei professor titular agora no fim de setembro. A cerimônia foi virtual, claro. Eu recebi muitos cumprimentos de todos, abri um champanhe sozinho aqui na serra e achei muito estranho. Mas é o que temos e vamos fazer o melhor dentro das possibilidades, enquanto as restrições durarem.”
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