Uma nova produção de Theodora, de Händel, no Teatro Colón de Buenos Aires, provocou reação de representantes da Igreja Católica, que pedem o cancelamento do espetáculo e a demissão do ministro da Cultura da capital argentina.
O oratório de Händel narra a história da mártir cristão, que preferiu a morte a se entregar em festividades pagãs, como ordenado pelo imperador Diocleciano.
Na encenação que a obra ganhou no Colón, a peça é acompanhada da leitura de textos da teóloga Marcella Althaus-Reid, pela atriz Mercedes Morán. A autora ficou conhecida pela defesa do que chamou de Teologia Indecente, ou Teologia Queer. Em seus trabalhos, propôs reflexões sobre temáticas ligadas às questões de gênero e o questionamento das visões patriarcais e heteronormativas presentes na doutrina da Igreja Católica.
Após a estreia da produção, na semana passada, o jornal La Nación publicou uma carta na qual o padre Eduardo Pérez afirmou que “um teatro que se mantém com nossos impostos não pode permitir que sejam lidos textos nos quais a Virgem Maria é descrita como escrava dos pobres e nós, sacerdotes, como pessoas que obrigam os penitentes a se ajoelhar diante de nosso pênis”.
Em seguida, a Associação de Advogados Católicos pediu a renúncia do Ministro da Cultura de Buenos Aires, Enrique Avogadro por conta da montagem, que seus membros consideraram “ofensiva”.
No domingo, dia 10, a comissão executiva da Conferência Episcopal Argentina também se pronunciou, emitindo comunicado no qual afirma ter recebido com dor notícias “da obra blasfema contra a Virgem Maria, a quem se refere com palavras que não se pode aceitar”. O texto, assinado por autoridades religiosas como o cardeal Mario Poli, pede que as autoridades “respeitem todos os símbolos sagrados, assim como se respeita e defende a livre expressão dos artistas”.
Diretor da produção, Alejandro Tantanian reafirmou ao jornal La Nación o sentido de se aproximar a história de Theodora da ideias de Althus-Reid, dizendo que em ambos os casos aborda-se a fé de quem é tratado como minoria.
“Eu entendo que a produção possa incomodar, como muitos discursos que circulam também me incomodam. Mas, a partir daí, pedir renúncias ou retratações me parece descabido e um ataque contra a liberdade de expressão. Estamos dizendo o que acreditamos sobre algumas questões e apresentando uma pensadora argentina. Eu entendo que tenha havido repercussões, mas o resto me parece desproporcional”, disse o encenador.
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