O Theatro São Pedro encerra sua temporada lírica deste ano com uma nova produção da ópera Ariadne em Naxos, de Richard Strauss, sob direção musical de Felix Krieger e direção cênica de Pablo Maritano
A ópera é uma reflexão sobre a arte, colocando lado a lado uma companhia trágica e outra de comédia, que são obrigadas a conviver nos salões do “homem mais rico de Viena”, cuja verdadeira preocupação é a enorme queima de fogos preparada para a festa.
Com isso, Strauss não apenas discute as especificidades do drama e da comédia no contexto operístico, como também o modo como o gênero se relaciona com a sociedade.
O elenco da produção é composto por Eiko Senda (Ariadne), Carla Domingues (Zerbinetta), Luisa Francesconi (Compositor), Eric Herrero (Baco), Igor Vieira (Arlequim), Marcelo Ferreira (Truffaldino e Mestre da Música) e Giovanni Tristacci (Scaramuccio e Mestre de Dança), entre outros. As récitas acontecem nos dias 18, 20, 23, 25, 27 e 30 de novembro e entram no próximo mês, com apresentações nos dias 2 e 4 de dezembro.
Há uma discussão frutífera e atual. Num sentido mais profundo, a peça fala do fim do romantismo, do fim de um tempo, e da entrada, estética e culturalmente, nesta era de enorme cinismo, diz Pablo Maritano
Em entrevista a Luciana Medeiros, publicada na edição de novembro da Revista CONCERTO, Pablo Maritano falou sobre sua visão a respeito da ópera, em diálogo com O cavaleiro da rosa, que ele encenou este ano no Theatro Municipal de São Paulo.
Para ele, mais que uma metaópera, um jogo de espelhos, Ariadne trata do esvaziamento da cultura e do poder do dinheiro. As duas obras, na visão do diretor, estão intimamente relacionadas – e não apenas pela sucessão cronológica. “O cavaleiro da rosa, de 1911, e Ariadne, que estreou no ano seguinte, têm roteiros espetaculares de Hofmannsthal, que considero um dos três maiores libretistas de ópera, ao lado de Busenello e Da Ponte. Mas as duas criações diferem em pontos-chave”, considera. “Cavaleiro é melancólico, enfoca o tempo e, principalmente, o relacionamento entre o presente e o passado. Ariadne, digamos, fala do futuro, da arte e particularmente da ópera a partir da situação do compositor sem recursos, que se submete aos caprichos do anfitrião.”
Maritano traz a encenação para os dias de hoje, ambientando a trama numa indefinida mansão de novos-ricos, de condomínio fechado, com figurinos contemporâneos. “Há uma discussão frutífera e atual. Num sentido mais profundo, a peça fala do fim do romantismo, do fim de um tempo, e da entrada, estética e culturalmente, nesta era de enorme cinismo. Hofmannsthal, a meu ver, fala da invenção do capitalismo, da escravidão invisível. E, mais especificamente, levanta a pergunta: para quem fala a ópera? Quando há ameaças à cultura, à educação, à universidade, à ciência, esse cinismo do capitalismo é absolutamente contrário à arte.”
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