Veronica Villarroel: "Grandes carreiras nem sempre são feitas pelos maiores talentos"

por João Luiz Sampaio 06/10/2019

Para o público brasileiro, o nome da soprano chilena Veronica Villarroel é sinônimo de Carlos Gomes, de quem interpretou O guarani, obra criada na Itália, em uma montagem histórica apresentada nos anos 1990 na Alemanha e nos Estados Unidos, motivada pelo interesse do tenor espanhol Plácido Domingo na partitura.

Que bela salada de nacionalidades… “Werner Herzog [diretor cênico da produção] conhecia a cultura brasileira tão bem, falava o português, nos contava história sobre a floresta, era fascinante”, ela lembra. “Ao mesmo tempo, parecia estranho ouvir o coro de índios cantando em italiano. Mas, enfim, eu também era do Chile [risos]. No final, o que importava era a beleza da música e, quando se faz algo com paixão, como fizemos, tudo é possível.”

 

Villarroel está no Brasil. Passou a última semana trabalhando com jovens cantores brasileiros no Teatro Sérgio Cardoso, em iniciativa da Cia. Ópera São Paulo. Amanhã, segunda-feira, dia 7, seus alunos fazem recital em homenagem a ela no Theatro São Pedro (e Villarroel, é o que se diz, deve também subir ao palco).

Tendo como madrinha a lendária soprano Renata Scotto, ela iniciou a trajetória profissional no início dos anos 1990, cantando Mimi, em La bohème, de Puccini, no Metropolitan Opera House de Nova York. Seguiram-se temporadas no Covent Garden, no Scala de Milão, no Teatro Real de Madri, no Liceo de Barcelona. Em 2011, fundou em Santiago uma academia de canto para jovens artistas.

“Não é uma resposta fácil”, ela diz, quando perguntada sobre qual sua principal preocupação ao trabalhar com cantores iniciantes. “O que sei é que, ao longo da semana, escutei grandes talentos. Mas talentos existem em toda parte. Para mim, o importante é a curiosidade em conhecer o texto, a história, a dicção, a interpretação. Grandes carreiras nem sempre são feitas pelos maiores talentos, mas pela perseverança, pelo estudo constante, pela disciplina e pelo desejo de conhecer mais.”

Villarroel diz que cantar é um trabalho duro, que exige constante aperfeiçoamento, também pessoal. “Cantar um papel é conhecer a história, o tempo em que ela está ambientada, saber o significado do texto. Mas também lidar com questões de insegurança, que mexem com todos nós. Eu tive períodos de ataques de pânico e de depressão por conta da insegurança, porque o poder da mente é muito forte e precisamos treiná-lo de forma positiva, mesmo que precisemos para isso de ajuda profissional, como eu precisei.”

Para ela, a definição de Adriana Lecouvreur, protagonista da ópera de Francesco Cilea, é quem melhor define o que é estar no palco. “O cantor precisa ser o instrumento a serviço da música, ter a capacidade de tocar emocionalmente o público, de levá-lo a outra dimensão. E cooperar com seus colegas, com os cantores, maestro, com o diretor de cena, dialogar com os figurinos, com a luz.” No fundo, conclui, “estar no palco é uma “sorte maravilhosa para o cantor”.

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A soprano chilena Veronica Villarroel [DIVULGAÇÃO]
A soprano chilena Veronica Villarroel [DIVULGAÇÃO]

 

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