Retrospectiva 2024: Nelson Rubens Kunze, diretor-editor da Revista CONCERTO
Assistimos em 2024 a uma sensacional temporada da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, a Osesp. Acompanhei diversos concertos e considero que a programação tenha sido uma das melhores dos últimos anos. Além de artistas de exceção, vimos o repertório brasileiro bem representado, assim como a produção contemporânea. E a Osesp ainda festejou os seus 70 anos com uma importante turnê europeia, que incluiu a sua primeira apresentação na Philharmonie, em Berlim.
O ano também foi o da comemoração dos 25 anos da Sala São Paulo. A Sala São Paulo transcende a sua condição evidente de ser uma espetacular sala de concertos sinfônicos, pois ela é também o símbolo de uma política pública vitoriosa, que incluiu o investimento feito na reestruturação da Osesp e o estabelecimento de um novo paradigma para a gestão de equipamentos públicos de cultura, que é o modelo das organizações sociais. Sim, políticas públicas são indispensáveis para a promoção e manutenção da atividade musical clássica – não há no mundo inteiro orquestra ou teatro de ópera que funcione sem subvenção pública, seja por meio de investimentos diretos do Estado, seja por meio de leis de incentivo fiscal.
A reinauguração do Teatro Cultura Artística foi outro grande destaque do ano. O novo prédio – em sua maior parte financiado por meio de patrocínios captados via Lei Rouanet (olha aí novamente a subvenção pública!) – superou todas as expectativas ao conseguir juntar o restauro histórico da fachada e dos foyers a uma moderna e sóbria sala de concertos, de acústica espetacular. Para além disso, a Cultura Artística retomou a sua temporada com uma programação realmente impressionante, com várias apresentações seguidas de artistas do primeiro escalão internacional.
O Theatro Municipal de São Paulo realizou novamente uma concorrida temporada, mostrando que é possível aliar com sucesso uma programação de qualidade com ações de inclusão e diversidade. E a Filarmônica de Minas Gerais cumpriu uma temporada de alto nível, com ótimos concertos e gravações.
Mas creio que o ano foi bom também para além das excepcionalidades acima citadas. A despeito das conhecidas dificuldades crônicas e estruturais, diversas orquestras e festivais Brasil afora retomaram agendas consistentes. Faz parte disso, uma salutar diversidade de concepções artísticas dos diferentes grupos, muitas vezes também condicionadas às regiões em que atuam ou aos desafios financeiros a que estão submetidos. Entre as diversas iniciativas que movimentaram a cultura quero citar, como exemplos, a temporada da OSB, os 50 anos da Camerata Antiqua de Curitiba, a programação da Tucca, da Dellarte e do Mozarteum Brasileiro, os festivais Artes Vertentes em Tiradentes e de Música Erudita do Espírito Santo, a dinâmica temporada da Ospa em Porto Alegre, as programações do Theatro São Pedro, da Sinfônica de Minas Gerais, da Opes, da Amazonas Filarmônica, da Oses, da Orsse, da Sinfônica do Paraná e da de Brasília, as atividades da Orquestra Ouro Preto e dos diversos projetos de inclusão social.
Mas é preciso apontar também eventos preocupantes ocorridos em 2024: primeiro, o trauma vivido pela Filarmônica de Minas Gerais, que por muito pouco não viu seu futuro enterrado em razão de uma inacreditável tentativa de confisco de sua sede, a Sala Minas Gerais; e, depois, o lamentável cancelamento da 26ª edição do Festival Amazonas de Ópera, uma das mais importantes vitrines de cultura e humanismo em uma das regiões mais vilipendiadas e maltratadas de nosso país.
Mas, com tudo isso, creio que o saldo é positivo. Há governos, autoridades públicas e gestores com a franca intenção de construir um futuro justo e sustentável, em que a educação e a cultura tenham um lugar de destaque. E é com eles que nós vamos.
Antes de terminar, gostaria de agradecer a todos os leitores da Revista CONCERTO, pela sua participação e fidelidade. Gostaria de agradecer também aos nossos colaboradores – modéstia à parte, contamos com o melhor time de jornalistas e críticos especializados. E gostaria de agradecer especialmente aos nossos anunciantes, que compreendem a Revista CONCERTO, para além de sua vocação precípua de divulgador da agenda de concertos, também como elemento fundamental para o debate e a articulação do ecossistema clássico brasileiro. Obrigado a todos pela parceria e pela confiança!
E vamos animados para 2025, pois vai ter festa: em setembro, a Revista CONCERTO completará 30 anos de circulação ininterrupta, um marco inédito para uma publicação exclusivamente cultural, creio que único na história do Brasil.
Desejo a todos um Ótimo Ano-Novo, com muita saúde, felicidade e música!
(Ao longo deste mês de janeiro, publicaremos neste espaço, diariamente, os depoimentos de alguns dos mais influentes profissionais do setor, entre músicos, promotores e gestores. Acompanhe o Revista e o Site CONCERTO e fique por dentro de tudo que se passa na área da música clássica e da ópera.)
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