Manifestação ocorreu ontem, dia 7, antes da récita de Macbeth
A récita de ontem, dia 7, da ópera Macbeth, no Theatro Municipal de São Paulo, foi marcada por um protesto inédito dos corpos artísticos da casa. A mobilização ocorreu após o afastamento disciplinar do contrabaixista Brian Fountain, integrante da Orquestra Sinfônica Municipal e presidente da Associação dos Músicos do Theatro Municipal (Amithem), que tem se posicionado de forma crítica à gestão da organização social Sustenidos, responsável pela administração do teatro.
Fountain foi suspenso por 30 dias, sem remuneração, após publicar em suas redes sociais críticas contundentes à atual montagem da ópera de Verdi, chamando a produção de uma “destruição da ópera e da música clássica”. Segundo o jornal Folha de S. Paulo, o documento enviado ao músico pela Sustenidos aponta que suas postagens teriam conteúdo ofensivo e configurariam falta grave segundo a legislação trabalhista. A entidade, porém, declarou que não comenta procedimentos internos de gestão de pessoas.
Minutos antes do início da récita de ontem, músicos da orquestra, membros do Coro Lírico e técnicos da casa subiram ao palco, tapando a própria boca como gesto simbólico de censura. Um dos cantores leu um texto em que criticou o afastamento de Fountain, contestou a condução administrativa da Sustenidos e defendeu a liberdade de expressão dentro do teatro. O pronunciamento foi seguido por gritos de “pela liberdade de expressão” e “não à opressão”, recebidos com aplausos da plateia.
Antes, os músicos já haviam postado uma nota nas redes sociais com o seguinte comunicado: “Nós, os Músicos da Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo, repudiamos as medidas disciplinares injustas e incoerentes aplicadas, sem direito ao contraditório, contra nosso representante eleito Sr. Brian Fountain. Informamos que serão tomadas as medidas cabíveis para garantir nosso direito à representação e à liberdade de expressão”.
A reação ocorre em meio a um clima já tenso no Municipal. Na sexta-feira dia 31, na estreia de Macbeth dirigida por Elisa Ohtake e regida por Roberto Minczuk, algumas pessoas na plateia gritaram e vaiaram logo que começou a exibição de vídeos, durante a troca de cenários, que mostravam os cantores nos bastidores e nas escadarias externas do Theatro Municipal. As manifestações e vaias se repetiram na apresentação dessa sexta.
O episódio também se insere em um cenário político mais amplo: no mês passado, após alerta da Fundação Theatro Municipal de São Paulo e pressionado por setores conservadores da direita, o prefeito Ricardo Nunes chegou a solicitar a rescisão do contrato da Sustenidos em razão de um funcionário da OS ter postado em sua página pessoal um vídeo que questionava a repercussão pública em torno do assassinato do ativista norte-americano Charlie Kirk, chamando-o de “nazista” e “racista”.
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