Interpretação também evidenciou as grandes qualidades estruturais do Concerto nº 2 para violoncelo de Villa-Lobos
Concerto, dia 23, na Sala São Paulo: Antonio Meneses tocou, com a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, dirigida por Isaac Karabtchebsky, o Concerto nº 2 , para violoncelo. Ele havia gravado essa obra em 1999, para o selo Naïve, com a Orquestra Sinfonica de Galicia, sob a direção de Victor Pablo Pérez, uma gravação essencial que contém ainda o Concerto nº 1 e a Fantasia para violoncelo e orquestra.
Composto em 1953, o Concerto nº 2 é uma obra notável, por onde perpassa lembranças da Bachiana nº 5 (a melodia do segundo movimento, por exemplo), e que mereceria estar mais presente nas programações. É verdade que se trata de uma composição nada fácil, muito exigente. Como se sabe, o violoncelo era o instrumento de Villa-Lobos, que o conhecia em profundidade.
Meneses é o grande mago do violoncelo com carreira internacional. Em parceria com Karabtchevsky, deu um uma versão mais estrita, do que em sua gravação, onde se leva por uma sedutora malemolência. Mas esse rigor na interpretação da Sala São Paulo serviu para assinalar as grandes qualidades estruturais da obra. No primeiro movimento, imediatamente a clareza da concepção sublinhava a qualidade da orquestração e o vínculo integrado entre o solista e o conjunto. O cantabile do segundo movimento, lírico, num tecido delicado, espraiava-se sem entregar-se a nenhum sentimentalismo. O terceiro movimento, scherzo, com suas temíveis cadências, é o instante espetacular, que Meneses tocou com um brilho admirável. O movimento final, articulando-se com o precedente por um formidável glissando, foi um arremate brilhante. Antonio Meneses, em seu bis, ainda brindou o público com um Bach transcendente.
A Quarta sinfonia de Tchaikovsky encerrou o programa. Karabtchevsky nunca foi um maestro dos arroubos veementes, das eloquências aproximativas. Toma seu tempo para pôr tudo no lugar, com cuidado minucioso, fazendo a orquestra soar em todas as suas nuances. Essa maneira de conceber não significa ausência de intensidade, mas uma intensidade que brota das próprias estruturas: surgiu da sinfonia um fatum, como queria Tchaikovsky, um fatum nada sentimental, construído com as mais belas sonoridades. O que ele solicitou das cordas, que têm um papel notável nessa obra, foram dosagens sonoras magnificamente obedecidas – pianíssimos que pareciam um sonho. O tema do segundo movimento “in modo di canzona”, é enunciado pelo oboé, que o interpretou de maneira comovente. O pizzicato ostinato foi mais do que brilhante, foi esplêndido. O último movimento, alegro com fuoco, arrebatou o auditório.
Uma apresentação em que a beleza do rigor brotou, incandescente.
[Haverá ainda uma apresentação do concerto neste sábado, dia 25, às 16h30, na Sala São Paulo. A gravação do dia 24 pode ser vista no YouTube clicando aqui.]
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