Desventuras faustianas entre Santos e Mauá

Ensemble da Ocam e Arrigo Barnabé oferecem cenário brasileiro para A história do soldado, de Stravinsky, no Instituto Tomie Ohtake

Às 11h do escaldante último domingo, crianças e adultos ocuparam todas as cadeiras dispostas no saguão principal do Instituto Tomie Ohtake para assistir A história do soldado, de Igor Stravinsky. Quem ficou a cargo da interpretação foi o Ensemble da Orquestra de Câmara da ECA-USP (Ocam), regido por Ricardo Bologna.

Na história, um soldado confrontado pelo diabo vive as consequências de uma barganha nefasta. O texto, apesar de originalmente francês, comumente ganha traduções. Ontem, alguns toques a mais além da simples transposição do idioma: o caminho seguido pelo soldado virou o percurso entre Santos e Mauá (são 13 horas de caminhada, de acordo com o Google Maps). E o diabo, que o soldado encontra em vários outros episódios ao longo da peça, ganhou apelidos bem brasileiros: foi chamado também de tinhoso e satanás. 

Essas deliciosas adaptações do texto, narrado por Arrigo Barnabé de uma maneira impossível de descrever sem recorrer a clássicos como Clara Crocodilo e Tubarões Voadores, avivaram as cores da peça. 

A narração manteve o público atento, e os breves diálogos que às vezes aconteciam entre Barnabé, Ricardo Bologna e o violinista, Pedro Cardim, conquistaram risos – como quando o narrador descreve o momento em que o soldado não consegue mais tirar nenhum som de seu violino, objeto perdido na barganha. 

O personagem do soldado pode ter tido reveses com seu instrumento, mas, atuações à parte, todos os sons requisitados pelo texto musical de Stravinsky saíram fluidos e bem equilibrados entre os músicos do ensemble, com destaque para As Três Danças

A apresentação da Ocam fecha uma série que já dura 10 anos em parceria com o Tomie Ohtake. E a própria orquestra está em ano celebratório: são trinta de atividades do grupo fundado por Olivier Toni. 

As apresentações no Tomie Ohtake retornam em março e vão até novembro. Dos programas, o dedicado ao repertório clássico, com Alessandro Santoro ao cravo, e o Concerto nº1 para violão e pequena orquestra de Leo Brouwer, com Edelton Gloeden como solista, são destaques.

Apresentação de 'A história do soldado' no Instituto Tomie Ohtake [Revista CONCERTO]
Apresentação de 'A história do soldado' no Instituto Tomie Ohtake [Revista CONCERTO]

 

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