Em ótimo concerto, Filarmônica festeja 5 anos da Sala Minas Gerais

por Nelson Rubens Kunze 14/02/2020

Fui a Belo Horizonte ontem, dia 13 de fevereiro, para assistir ao concerto em comemoração aos 5 anos da Sala Minas Gerais. Pode parecer pouco, 5 anos, mas no mundo de hoje, e especialmente no Brasil, vale comemorar. Ainda mais, considerando que a Sala é sede da Filarmônica de Minas Gerais, essa valiosa joia de nosso mundo clássico, que já vai para a sua 13ª temporada. Como? Com um projeto cultural criterioso implementado pelo estado de Minas Gerais (palmas!), com investimento público para a sua manutenção (palmas!), com um moderno modelo de gestão com uma organização social da cultura (palmas!), com um ótimo e comprometido diretor artístico e regente titular, Fábio Mechetti (palmas!) e finalmente, mas não menos importante, com um igualmente ótimo grupo de músicos competentes e comprometidos (palmas e mais palmas!).

A Sala Minas Gerais é a materialização de um consistente projeto de política pública cultural, que deu a Minas Gerais uma grande orquestra sinfônica de qualidade. Parabéns ao estado e ao governo de Minas Gerais (e mais palmas)!

Assisti à inauguração da Sala Minas Gerais, em 2015 [leia aqui]. De lá pra cá, a sala, além de sua beleza despojada e da intimidade e conforto de seus 1500 lugares, consolidou-se como uma das melhores acústicas do país. A orquestra soa bem, clara e brilhante, com boa reverberação. Como na inauguração, a Filarmônica apresentou a Segunda sinfonia de Gustav Mahler, Ressurreição, com participação do Coral Lírico de Minas Gerais (Hernán Sánchez) e do Coro da Osesp (William Coelho). Os solistas foram as ótimas Camila Titinger e Luísa Francesconi, com direção do regente titular Fábio Mechetti. 

Filarmônica de Minas Gerais no concerto de 5 anos da Sala Minas Gerais [divulgação / Bruna Brandão]
Filarmônica de Minas Gerais no concerto de 5 anos da Sala Minas Gerais [divulgação / Bruna Brandão]

Foi uma boa interpretação, de alto nível, com momentos de forte carga dramática. A orquestra respondeu bem às intenções artísticas propostas por Mechetti, exibindo belos fraseados e tocando com convicção as interjeições características da escrita mahleriana. Um dos pontos altos foi o dinâmico scherzo do terceiro movimento, em que a orquestra demonstrou ótima fluência e equilíbrio. Apenas em alguns tuttis orquestrais, uma intensidade demasiada nos metais – talvez reforçada pela acústica brilhante da Sala –, roubou um pouco da riqueza tímbrica de cordas e madeiras.

Mas o destaque da noite foi a performance vocal. Os coros exibiram homogeneidade e bela sonoridade, e a soprano Camila Titinger foi muito bem em suas intervenções. A mezzo soprano Luísa Francesconi, em ótima atuação, cantou de forma emocionante, com seu timbre especial e emissão bem projetada.

O público mineiro que lotou a Sala Minas Gerais assistiu a uma das grandes sinfonias do romantismo musical, a um dos grandes monumentos da cultura ocidental de todos os tempos. Que bom seria se outros estados do Brasil se inspirassem em um projeto cultural dessa qualidade e envergadura, que divulga música de qualidade, forma plateias, contribui para a educação e oferece à população mineira alguns dos maiores tesouros de nossa humanidade. 

Vida longa à Sala e à Filarmônica Minas Gerais! 

[Nelson Rubens Kunze viajou a Belo Horizonte e assistiu ao concerto na Sala Minas Gerais a convite do Instituto Filarmônica.]

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