Na excelente apresentação, apenas a acústica inadequada do Teatro B32 incomodou
O concerto do Festival Strings Lucerne com o pianista Nelson Goerner, realizado ontem (30 de maio), no Teatro B32 dentro da temporada da Dellarte, foi uma verdadeira ode à música de câmara: excelência técnica, escuta ativa, entrosamento perfeito e sintonia artística no mais alto grau.
O concerto começou com o breve Minueto sobre o nome Haydn, de Maurice Ravel, de 1909, homenagem ao compositor austríaco escrita originalmente para piano solo. Em interpretação expressiva, a obra já deu mostras da clareza e unidade dos naipes do conjunto suíço.
Seguiu-se o Piccolo Concerto Grosso, op. 87, de Richard Dubugnon, compositor franco-suíço nascido em 1968. Inspirado na forma barroca do concerto grosso, a obra é dividida em quatro movimentos, com um quarteto solista dialogando com a orquestra. A escrita de Dubugnon é tonal, mas inventiva e bem construída, prendendo a atenção do ouvinte. Aqui também a interpretação evidenciou a interação e a qualidade de articulação do grupo.
O ponto alto da primeira parte veio com Nelson Goerner e o Concerto para piano nº 2 de Frédéric Chopin, apresentado em arranjo para orquestra de cordas. Se a versão preserva aquilo que há de mais essencial na obra de Chopin – a parte solista do piano – ela perde a densidade sinfônica com seus sopros e percussão, e assim, algo de seu “peso” romântico.
Nelson Goerner fez jus a sua reputação de pianista excepcional, de técnica impecável e fraseados orgânicos, e ofereceu uma leitura de rara beleza e sempre em absoluta sintonia com a orquestra. Muito aplaudido, Goerner deu dois prelúdios de Rachmaninov de bis, nos quais voltou a demonstrar seu virtuosismo e sensibilidade poética.
Mas o momento culminante do concerto veio após o intervalo, com a Serenata para cordas em dó maior, op. 48, de Tchaikovsky. Composta em 1880, a obra é um tributo do compositor russo à tradição vienense do século XVIII e a Mozart, combinando a elegância clássica com a verve romântica. Batido como um dos grandes hits clássicos, é comum ouvir a obra em execuções corriqueiras e enfadonhas. Aqui não! O que se ouviu foi uma interpretação concentrada e de altíssimo nível. Uma maravilha! Naipes coesos e equilibrados, precisão rítmica, soberbas articulações e dinâmicas cuidadas – pura música de câmara que uniu os 20 instrumentistas em uma emocionante aventura artística. Foi um verdadeiro prazer musical que o Festival Strings Lucerne compartilhou generosamente com a privilegiada plateia.
Só é uma pena mesmo, que o Teatro B32 seja tão inadequado para a música clássica. O espaço apresenta uma sonoridade seca e opaca que prejudica a fusão dos timbres e trava a propagação sonora. Faltam ressonância e harmônicos, e isso compromete a experiência auditiva. Seria altamente desejável que o teatro – que tem abrigado uma importante programação de concertos e recitais – investisse em rebatedores acústicos ou em alguma outra solução técnica.
[O Festival Strings Lucerne e Nelson Goerner se apresentam amanhã, dia 1º de junho, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Clique aqui para mais detalhes do Roteiro Musical.]
 
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