Dia 18, assisti ao recital do pianista Lucas Thomazinho, na Sala Watari, Barão Geraldo, Campinas. Com 27 anos, assumiu um programa de grande exigência virtuosística.
Primeira obra: a Suíte floral de Villa-Lobos, composição de juventude, interpretada com bela liberdade de expressão, toque delicado, respeitando o tom debussysta que lhe é próprio. São três movimentos. O vai e vem elegante, “art nouveau”, de que o “Idílio na rede” é feito, o orientalismo belle-époque da “Camponesa cantadeira”, foram traduzidos com sensibilidade fina; dando lugar a poderosa energia na “Alegria na horta”, de exuberância eloquente (que horta é essa, imaginada por Villa-Lobos, mais parecendo uma floresta do Douanier Rousseau?).
Em seguida, o Rudepoema, também de Villa-Lobos. Essa composição de 1926 é tão difícil que raros intérpretes ousam enfrentá-la. Foi o ponto alto do recital. É uma partitura que propõe, creio, três grandes dificuldades básicas. Primeiro, dominar suas terríveis exigências técnicas; em seguida, insuflar a energia rapsódica que o discurso musical pressupõe; depois, uma vez que o virtuosismo e a energia se encontram dominados e mesclados, conseguir manter a clareza de todos os planos, sem amontoar os sons.
Thomazinho associou perfeitamente esses três níveis, ao mesmo tempo que conferia climas específicos a cada episódio. Foi a obra mais habitada, mais amadurecida, mais profundamente concebida e sentida pelo intérprete.
A segunda parte começou com um Noturno, da polonesa Maria Szymanowska, cujo caráter é claramente precursor de Chopin. Concluiu-se por uma tempestade: a impressionante transcrição da abertura de Tannhäuser, de Richard Wagner, por Franz Liszt.
Dois amáveis bis completaram o recital: o tratamento pianístico que Alexis Weissenberg deu para En avril à Paris, de Charles Trenet, e uma composição do próprio Lucas Thomazinho.
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