Momentos de beleza e virtuosismo

por Camila Fresca 06/04/2023

Na última terça-feira, a Cultura Artística abriu sua Série de Violão de 2023 com um concerto de Plínio Fernandes. O recital estava com lotação esgotada e cadeiras extras foram colocadas no Teatro B32. Paulista de Itanhaém, Plínio, de 28 anos, voltou a se apresentar no Brasil após 9 anos de ausência. Nesse meio tempo, contudo, muita coisa mudou: ele se formou na Royal Academy of Music, em Londres, e deu início a uma exitosa carreira internacional. 

Na Royal, conheceu os Kanneh-Mason, talentosa família de músicos que virou celebridade nas redes sociais. Com o mais conhecido deles, o violoncelista Sheku Kanneh-Mason (que ganhou o Jovem Músico da BBC em 2016 e dois anos depois tocou no casamento do príncipe Harry com Meghan Markle), Plínio formou um duo que atingiu dezenas de milhões de reproduções no Spotify. Confinado com a família Kanneh-Mason durante a pandemia, fizeram transmissões nas redes sociais e gravaram um documentário para a BBC.

Tudo isso culminou, no ano passado, com a assinatura de um contrato para o lançamento de cinco CDs pela gravadora Decca. O primeiro deles, Saudade, de 2022, alcançou a primeira colocação de música clássica na Billboard. Agora, Plínio prepara o segundo disco, que deve ser lançado ainda este ano. 

Tais feitos justificam a expectativa do público presente e também a ansiedade do artista no palco. A primeira parte do recital foi dedicada a um repertório erudito, com Bach e Villa-Lobos; na segunda, Plínio interpretou peças populares latino-americanas.  O nervosismo comprometeu a execução das duas primeiras peças, o Prelúdio das Bachianas brasileiras nº 4, em arranjo de Sérgio Assad, e o Prelúdio, fuga e allegro BWV 998

Plínio Fernandes durante recital no Teatro B32 [Divulgação/Cauê Diniz]
Plínio Fernandes durante recital no Teatro B32 [Divulgação/Cauê Diniz]

Plínio Fernandes falou antes de interpretar o grande conjunto da noite: os 5 Prelúdios para violão de Villa-Lobos. A obra, escrita na década de 1940, está incorporada ao repertório internacional do instrumento, e o músico explicou que ela a acompanha desde menino. Na plateia, parentes, amigos e professores do artista, bem como violonistas e estudantes do instrumento, acompanhavam tudo com atenção. E foram vários os momentos de beleza e virtuosismo ao longo dos Prelúdios

Mas o melhor da arte de Plínio se mostrou nas peças populares, começando com a linda versão de Emmanuel Sowicz para Gracias a la vida, da chilena Violeta Parra. A esta seguiu-se o animado batuque Xodó da baiana, de Dilermando Reis, nome fundamental do violão brasileiro. (A peça, como bem notou Sidney Molina na nota de programa, tem na sua melodia uma curiosa semelhança com o início do Corta-jaca, de Chiquinha Gonzaga.) 

Tal como a abertura do programa, as duas últimas peças foram tocadas em arranjos de Sérgio Assad: uma singela versão de Beatriz, de Chico Buarque, e Assanhado, de Jacó do Bandolim, que Plínio defendeu com muito balanço e elegância. A peça, aliás, é a que abre seu disco Saudade. 

Antes da noite se encerrar, Plínio tocou, como bis, Valseana, de autoria de Sergio Assad e igualmente integrante de seu primeiro disco. A obra foi dedicada ao amigo Sheku Kanneh-Mason, presente na plateia e que naquele dia completava 24 anos de idade.

O CD Saudade é uma pequena joia e basta ouvi-lo para entender o porquê do sucesso que tem feito. Vale também assistir os vídeos oficiais de várias das faixas, que estão disponíveis na internet. Minha preferida é a lindíssima versão que Plínio e Sheku fizeram da Ária das Bachianas brasileiras nº 5 (confira abaixo). Espero ansiosamente pelo segundo disco de Plínio Fernandes – e por uma nova oportunidade de vê-lo ao vivo.

 

Leia também
Notícias 
Osesp apresenta ópera ‘O castelo do Barba Azul’, de Bartók, em versão de concerto
Notícias Exposição em São Paulo recupera universo artístico do cineasta Serguei Eisenstein
Notícias Orquestra Ouro Preto lança disco com Gustavo Carvalho e Cristian Budu
Crítica Alto nível artístico marca apresentação do duo Eliane Coelho e Gustavo Carvalho, por Nelson Rubens Kunze

Curtir

Comentários

Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não refletem a opinião da Revista CONCERTO.

Link permanente

Foi muito bom ler este texto, pois saí um pouco decepcionado da apresentação.
Imaginava encontrar um músico descontraído, sorridente como nas suas imagens divulgadas, mas era visível o seu nervosismo. É claro que eu deveria ter levado em consideração essa carga de emoção pelo seu retorno às suas origens, o que é até bacana.
Quanto às cadeiras extras, é uma atitude irresponsável da administração da sala, por colocar todos os presentes em sério risco. Não são permitidas pela legislação vigente, especialmente da forma como foram colocadas, nas imediações das saídas. Irresponsável também, a posição das enormes câmaras de filmagem, colocadas nos corredores de saída. Até quando?

É preciso estar logado para comentar. Clique aqui para fazer seu login gratuito.