A interpretação do ciclo completo das sonatas para violino e piano contará ainda com a participação de outros destacados músicos
Uma das poucas coisas boas que essa pandemia trouxe, foi a de incentivar as transmissões on-line de recitais e concertos. A Sala Minas Gerais, em Belo Horizonte, saiu na frente, já que desde o ano passado vinha investindo na instalação de um moderno estúdio de transmissão ao vivo, com controle remoto de câmeras e captação de som. Sua temporada recomeçou em agosto, ainda sem público, ditando os padrões de referência de qualidade para as transmissões on-line no Brasil.
Outro teatro que, sem improvisos de última hora, soube se preparar para a retomada de concertos foi a Sala Cecília Meireles, no Rio de Janeiro. Seu diretor, João Guilherme Ripper, foi um dos líderes na elaboração do protocolo de segurança sanitária do Fórum Brasileiro de Dança, Ópera e Música de Concerto, que estabeleceu as normas para a apresentação de espetáculos na pandemia. Ainda sem uma estrutura de transmissão própria, a Sala Cecília Meireles aluga equipamentos de som e vídeo que têm oferecido um bom resultado.
Se as condições técnicas são obrigatórias, o que importa mesmo é a música. E aí, a Sala Cecília Meireles acaba de fazer um golaço. Desde sábado passado, dia 12, e com sequência nos próximos dois sábados, a Sala apresenta a integral das sonatas para violino e piano do aniversariante do ano, Beethoven. Sem público no teatro, a violinista Gabriela Queiroz e o pianista Aleyson Scopel, com máscaras e distanciamento social, interpretaram as Sonatas nº 4, nº 5 e nº 10. On-line e ao vivo, assisti ao concerto da Sala Cecília Meireles a 400 km de distância, daqui de São Paulo. E a julgar por essa estreia, a série promete ser um dos pontos altos da música clássica do ano do coronavírus. Foi uma maravilha!
Beethoven escreveu as suas dez sonatas para violino e piano entre os anos de 1798 e 1812. As Sonatas nº 4 e nº 5, respectivamente op. 23 e op. 24, são do mesmo ano de 1801 e são de certa maneira irmanadas. Pertencentes ao o que é considerada a primeira fase composicional do mestre alemão, que ainda traz traços determinantes do Classicismo, ambas obras já apontam para o espírito romântico, com a expansão da forma, o desenvolvimento temático e uma nova importância conferida ao piano. A Sonata nº 5 leva o título de “Primavera” (Frühlingssonate), provavelmente dado à obra após a morte do compositor.
Já a Sonata nº 10 (op. 96), última obra de Beethoven para essa formação, é de 1812. Ela é dedicada a seu aluno e mecenas Arquiduque Rudolf, que foi quem a estreou. Já mais ampliada em sua estrutura, com mais de 25 minutos de duração, ela é, na criação de Beethoven, contemporânea às Sinfonias nº 7 e nº 8.
O duo formado por Gabriela Queiroz e Aleyson Scopel, que já havia tocado essa série em Vitória, no Espírito Santo, é muito bom, demonstrou rara interação e sensibilidade, e ofereceu uma interpretação muito emocionante. Ambos são músicos maduros, de técnica limpa, que extraem um bonito som de seus instrumentos. Com apurado senso de estilo e frases bem desenhadas, proporcionaram uma bela viagem pelo universo de câmara beethoveniano.
A integral das sonatas de Beethoven segue ainda nas próximas duas semanas: dia 19, quem se apresenta são a violinista Priscila Rato e a pianista Erika Ribeiro com as Sonatas nºs 6, 7 e 8 (op. 30 nº 1, nº 2 e nº 3) [clique aqui para ler matéria sobre Priscila Rato publicada na edição corrente da Revista CONCERTO]; e, fechando a série, dia 26, é a vez do duo formado pelo spalla da Osesp Emmanuele Baldini e pelo jovem Lucas Thomazinho, que tocarão as Sonatas nº 1, 2 e 3 (op. 12 nº 1, nº 2 e nº 3) e a Sonata nº 9, op. 47, Kreutzer.
Não perca! É uma ótima seleção de músicos brasileiros em um repertório muito especial.
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