Noite de música francesa com a Filarmônica de Minas Gerais

BELO HORIZONTE – A Filarmônica de Minas Gerais, sob regência de Fabio Mechetti, recebeu na sexta-feira, 12, o pianista francês Jonathan Fournel. A noite contou com uma programação toda dedicada à música francesa, cidade natal do solista: D’un matin de printemps, de Lili Boulanger, o Concerto para mão esquerda em ré maior, de Ravel, a abertura Rob Roy, de Berlioz, e La Mer, de Debussy. 

A escolha de repertório pode presumir, num primeiro momento, que o tratamento estilístico, do ponto de vista interpretativo, vá acabar sendo o mesmo. Afinal, três das quatro obras apresentadas, além de terem a mesma origem geográfica, estão bastante perto no tempo, entre 1900 e 1930 (a de Berlioz data de 1831). Isso seria um engano. Ainda que o programa como um todo tenha promovido uma atmosfera de sonoridade única, as obras, em seus detalhes, exigiam mudanças ágeis de articulação e humor conforme a passagem das seções, como ocorre na obra de Boulanger, por exemplo.

Nesse sentido, foi interessante observar a versatilidade na regência de Fabio Mechetti. Ele empregou gestos diferentes de acordo com a necessidade de cada obra, e por vezes ainda de acordo com a necessidade de cada seção. Em D’un matin de printemps, por exemplo, houve pleno espaço para as cordas nas seções de placidez melódica, assim como em Rob Roy houve espaço para o solo de oboé, na seção acompanhada pela harpa. De outro lado, gestos mais curtos também guiaram muito bem a orquestra durante seções com protagonismo da percussão, como ocorre em partes da própria obra de Berlioz e também durante o Concerto para mão esquerda de Ravel. 

O Concerto soou fácil na mão de Jonathan Fournel, como se os vários saltos e gestos rápidos exigidos por Ravel (imagine saltar cada vez mais para o agudo do piano usando apenas sua mão esquerda), não fossem problema algum. Mas o que mais impressionou foi a preocupação de Fournel em colorir as diferentes vozes. O compromisso com a sonoridade foi notável, com um cuidado tímbrico muito bem pensado, característica primordial da escola de piano francesa. Seja com uma ou duas mãos, ouvir tal sonoridade é coisa rara.

Os três esboços sinfônicos construídos por Debussy em La Mer, obra que fechou o programa, traz à luz diferentes texturas orquestrais possíveis, bem interpretadas pela filarmônica. De maneira geral, o diálogo estreito entre regente e orquestra – que não assusta propriamente, porque a parceria vem desde 2008, mas não deixa de surpreender – e a energia viva de execução da Filarmônica durante todo o programa foram os pontos altos da noite.

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Mechetti, Fournel e a filarmônica durante apresentação na Sala Minas Gerais [Divulgação/Bruna Brandão]
Mechetti, Fournel e a filarmônica durante apresentação na Sala Minas Gerais [Divulgação/Bruna Brandão]

 

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