O Villa-Lobos imperdível da Osesp

O miraculoso projeto Brasil em Concerto, de gravação e difusão mundial de nossa música clássica pela Naxos, não poderia ficar completo sem a vedete das nossas orquestras – e ela não decepcionou. A estreia da Osesp na iniciativa, com um disco completamente dedicado a Villa-Lobos, é mais um daqueles primores que não podem faltar nas estantes dos dois ou três dinossauros que (como eu), ainda adquirem CDs – e se transforma em item obrigatório de escuta para quem já migrou de vez para as plataformas digitais.

Nossos compositores e obras são tão carentes de registro que haverá quem chie porque não se trata de um disco apenas de primeiras gravações. Bem, desde que a Osesp assumiu o protagonismo na vida musical brasileira, parece justíssimo que ela visite, interprete e grave todos os standards desse repertório. Sim, a música é um fenômeno global, e sua magia consiste em ver as grandes peças cruzando fronteiras, e sendo tocadas por musicistas de todas as latitudes. Por outro lado, sempre há a curiosidade de saber como os compositores “nacionais” de cada país soam ao serem executados pelas orquestras de suas terras natais. Queremos aprender com o Bartók de Budapeste, com o Tchaikóvski de São Petersburgo, com o Dvorák de Praga – e com o Villa-Lobos de São Paulo.

O Concerto para violão de Villa-Lobos é, possivelmente, a obra brasileira para instrumento solista e orquestra com maior difusão internacional, e não lhe faltam gravações excelentes. Essa aqui não fica para trás, com uma execução para lá de idiomática do violonista cubano Manuel Barrueco, e o apoio caloroso da Osesp, dirigida pelo costa-riquenho Giancarlo Guerrero – cuja rica colaboração com a orquestra, nos últimos anos, vem incluindo um repertório vasto, de Beethoven a Mahler, com uma química especialmente incandescente na música latino-americana.

 

Em 2017, Guerrero comandou uma performance refinada do Concerto para harmônica de Villa-Lobos, na Sala São Paulo, e toda a magia daquela ocasião está reproduzida no CD da Naxos. Aqui, como fizera na apresentação ao vivo, José Staneck demonstra tremenda intimidade com a partitura, que soa como se tivesse sido escrita expressamente para ele. Puro deleite, que convida à audição repetida.

Para além das peças orquestrais, o disco traz ainda duas criações de câmara, com nove musicistas, da jovem e talentosa oboísta Layla Köhler (que tive o prazer de ouvir no programa Prelúdio, da TV Cultura, e emprestou seu brilho à Orquestra Jovem do Estado de São Paulo, antes de embarcar para o Royal College of Music, em Londres) ao experimentado violonista Fabio Zanon, villa-lobiano de carteirinha, autor de gravações de referência e de um livro excelente sobre o compositor, bem como de um dos textos do encarte do disco.

Dica de Escuta Naxos

São partituras de combinação instrumental heterodoxa: o Sexteto místico, para flauta, oboé, saxofone alto, harpa, celesta e violão; e o raramente executado Quinteto instrumental, para flauta, violino, viola, violoncelo e harpa. Com equilíbrio e fraseado resolvidos pelos executantes de maneira magnífica, ambas as obras possuem um colorido onírico e inusitado, e dão o enésimo testemunho da fértil e ousada imaginação de Villa-Lobos.

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O violonista Manuel Barrueco [Divulgação]
O violonista Manuel Barrueco [Divulgação]

 

 

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