O delicado som do cravo vai soar mais forte essa semana no Rio de Janeiro, de hoje até o dia 25, no auditório do Clube de Engenharia, com a XVI Semana do Cravo, que tem à frente o instrumentista e professor da Escola de Música da UFRJ Marcelo Fagerlande.
Como acontece em todas as edições, o evento escolhe um homenageado – esse ano, a lembrança e os aplausos de professores e estudiosos vão para Violetta Kundert (1921-2013), pianista e cravista ucraniana. Ela mudou-se para o Rio de Janeiro convidada por José Siqueira em 1949, para integrar a Orquestra Sinfônica do Rio de Janeiro, e se notabilizou como integrante do Quarteto de Música Antiga da Rádio MEC.
Embora a Semana do Cravo seja dedicada principalmente às trocas acadêmicas, com interessados vindo do Brasil inteiro e discussões em torno das pesquisas e do ensino do instrumento, o público sempre ganha recitais com entrada franca. São concertos com jovens instrumentistas das escolas cariocas – UFRJ e Villa-Lobos – e de universidades de São Paulo, Pernambuco, Goiás e Minas.
“O cravo continua, sim, despertando interesse”, assegura Fagerlande. “Houve um boom nos anos 1970 e o interesse se manteve. Um exemplo disso são novos cursos, como o de Goiânia, do qual recebemos dois alunos nesse encontro, e na Escola Villa-Lobos, aqui no Rio. O cravo é um instrumento muito plural, característico da música barroca mas excelente para outros estilos”.
Fagerlande dá um exemplo. “Um dos trabalhos mais interessantes dentre os que serão apresentados é o de Ladson Matos, meu aluno do mestrado, que mostra a transcrição de peças da música armorial, de Cussy de Almeida e Clovis Pereira, entre outros, para o cravo. Soam muito bem.”
Uma nova geração de professores, antigos participantes como alunos, já se consolida nessa XVI Semana do Cravo. “É uma das intenções da semana, e um dos nossos orgulhos, ver que sementes desse trabalho brotaram”, conta Fagerlande. “E mostrar a nossa história, nossas figuras importantes. É como o caso da nossa homenageada: Roberto de Regina, por exemplo, a viu tocando antes de se transformar em cravista. Eu mesmo me lembro de concertos do Quarteto de Música Antiga no Museu de Belas Artes, na TV Globo... São pessoas que a gente deve celebrar, lembrar e ter como exemplo de formação de público e de músicos.”
Como nos últimos anos, o encontro tem apenas o apoio dos programas de pós-graduação em Música da UFRJ (“apesar da precariedade de recursos”, ressalta o cravista) e dos institutos de origem dos participantes. “Patrocínio é palavra complicada hoje em dia. Mas o fato de realizamos a Semana com verba tão reduzida e interesse crescente prova a força do evento e a consciência de que é importante estarmos juntos. Principalmente agora”, acredita Fagerlande.
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