Festival de Música Erudita do Espírito Santo anuncia nova edição, que terá a relação com o outro como tema

por Redação CONCERTO 02/10/2023

O 11º Festival de Música Erudita do Espírito Santo será realizado em Vitória, entre os dias 3 e 25 de novembro. O tema deste ano propõe uma reflexão sobre o ouvir, a nós mesmos e à diferença, sob o nome “Como é por dentro uma pessoa”.

O festival é dirigido por Tarcísio Santório e Natércia Lopes, com direção artística de Livia Sabag, assessoria musical de Gabriel Rhein-Schirato e correalização da Orquestra Sinfônica do Espírito Santo. Nesta edição, o jornalista e crítico musical João Luiz Sampaio foi o curador convidado.

Para montar a programação, ele partiu de um poema de Fernando Pessoa, cujos versos dizem: “Como é por dentro outra pessoa? / Quem é que o saberá sonhar?”. “Pessoa nos questiona com seus versos: será possível conhecer os gestos, os olhares, as palavras de outras almas, uma vez que mesmo da nossa nada sabemos? A relação com o outro é um dos desafios da existência. Pela necessidade de compreensão daquilo que é diferente. E pelo fato de que é por meio de nosso olhar para o mundo exterior que acessamos a dimensão daquilo que somos individualmente”, explica Sampaio no texto sobre a curadoria. “A partir de Pessoa, colocamos então outra pergunta – como é por dentro uma pessoa? –, refletindo sobre o ouvir – a nós mesmos e à diferença.”

Como nas edições anteriores do festival, a programação coloca ênfase na obra de compositoras, repertórios pouco conhecidos do público, principalmente dos séculos XX e XXI. Os programas trazem obras e artistas que representam diversidade de gêneros, culturas e orientações estéticas, inclusive com a estreia de quatro obras encomendadas a autores e autoras brasileiras: Marcus Siqueira, Juliana Ripke, Thais Montanari e Leonardo Martinelli.

A abertura do festival acontece nos dias 3 e 5 de novembro, com a estreia mundial da ópera Contos de Júlia, que Siqueira escreveu a partir de libreto de Veronica Stigger inspirado em contos da escritora brasileira Júlia Lopes de Almeida. Ela viveu entre 1862 e 1934 e ficou à margem da história da literatura brasileira apesar de sua força criativa e do modo como deu voz a personagens femininas às voltas com a violência e o preconceito da sociedade.

Dividida em três cenas, cada uma inspirada por um conto da autora, a ópera terá direção musical de Gabriel Rhein-Schirato e direção cênica de Julianna Santos. No elenco estarão cantores como as sopranos Eliane Coelho, Laura Duarte, Isabela Luchi e Isabela Mestriner e o baixo Stephen Bronk.

No dia 10, apresenta-se a Orquestra Jovem Vale Música, que vai apresentar obras de Britten, Elodie Bouny, Leopoldo Miguez e realizar a estreia de Invenções brasileiras nº 2, de Juliana Ripke.

O pianista Cristian Budu é a atração do dia 11, com um repertório que tem como tema a descoberta do indivíduo e seu mundo interior, à luz do Romantismo, com obras de Beethoven, Fanny Mendelssohn, Clara e Robert Schumann e Wagner.

A alma é profunda como os rios é o nome do recital do dia 17, com o barítono Homero Velho, a trompista Uri Borges e a pianista Priscila Bomfim. As obras abordam a guerra, a intolerância, mas também falam do desejo de sobrevivência por meio da arte e da poesia. Serão apresentadas peças de Schubert, dos portugueses Luis de Freitas Branco e Fernando Lopes Graça, da coreana Younghi Pagh Paan, das americanas Margareth Brouwer e Margareth Bonds, do ucraniano Valentin Silvestrov e da brasileira Nilcéia Baroncelli. O programa traz ainda a estreia mundial de Profecia do silêncio, de Leonardo Martinelli, a partir de poema de Júlia Hansen.

O programa do dia 18 aborda o silenciamento de vozes femininas, com peças de Berta Alves de Souza, Mel Bonis e Passionis de Flamma, ciclo de canções em que Eli-Eri Moura narra a história de três mulheres brutalmente assassinadas. No palco, estarão a pianista Erika Ribeiro e a soprano Débora Faustino.

A relação com a cidade, espaço de encontro com o outro, é o tema do programa do dia 19, que vai reunir o Quarteto Bratya, formado por músicos da Sinfônica do Espírito Santo, e a harpista do grupo, Maíni Moreno. O repertório tem peças da iraniana Niloufar Nourbakhsh, da francesa Lili Boulanger, dos franceses Marcel Tournier e André Caplet, da chinesa Joyce Tang, da irlandesa freya Waley-Cohen e da brasileira Thais Montanari, de quem será feita a estreia mundial de Poço de dentro, inspirada por poema de Hilda Hilst.

O concerto de encerramento acontece no dia 25 de novembro, com a Orquestra Sinfônica do Espírito Santo, sob regência do maestro Helder Trefzger ao lado dos vencedores do 2º Concurso de Canto Natércia Lopes. Durante a apresentação, o festival vai celebrar os dois homenageados desta edição: a compositora Marisa Rezende e a Orquestra Camerata SESI.

O festival terá ainda uma série de concertos itinerantes, além da participação do grupo Pequeno Teatro do Mundo, que apresentará uma versão para marionetes da ópera infanto-juvenil Onheama, de João Guilherme Ripper, inspirada em lendas amazônicas, em escolas, comunidades de povos originários do congo e quilombolas do interior do estado do Espírito Santo.

As apresentações acontecem na Casa de Cultura Sônia Cabral e no Sesc Gloria e serão também transmitidas ao vivo pela internet. Mais informações no site do evento.

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Relação com o outro será o tema da programação [Divulgação/Victor Braga]
Relação com o outro será o tema da programação [Divulgação/Victor Braga]

 

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