O violinista e maestro Rafael Garcia morreu ontem, dia 12, aos 77 anos, vítima de um câncer. Nascido no Chile, ele radicou-se no Brasil no final dos anos 1960, onde teve atuação importante como instrumentista, em grupos como a Osesp. E onde criou um dos principais eventos do calendário musical brasileiro, o Festival Virtuosi de Recife.
Rafael Garcia cresceu em um ambiente familiar marcado pela música e pela arte. “Meu pai, arquiteto de monumentos, era uma pessoa que gostava muito de música clássica especialmente de ópera. Desde muito pequeno era obrigado a ouvir essas músicas coisa que no início eu sentia como uma obrigação, mas aos poucos ela foi me envolvendo e começou a fazer parte da minha vida. Minha mãe gostava de pintura e da dança clássica e meu irmão mais velho estudava o violino com muita dedicação. Não foi difícil escolher para mim a música como profissão”, contou em uma entrevista ao site do Festival Virtuosi.
Ao 22 anos, em 1966, ele seguiu para a Alemanha, para estudar na Universidade de Detmold. Durante a viagem de navio, conheceu uma pianista brasileira, Ana Altino, com quem acabou se casando: foram mais de cinquenta anos de união, que acabou influenciando em sua decisão de viver no Brasil.
Os dois instalaram-se em Recife, mas, no início dos anos 1970, Garcia recebeu de Eleazar de Carvalho um convite para integrar a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. “Era uma oferta irrecusável. Em São Paulo, tornei-me spalla em menos de um ano e ficamos de 1972 a 1977”, contou ele à Revista CONCERTO em 2010.
Pouco depois, o casal seguiria para João Pessoa, onde os dois começaram a dar aulas na Universidade Federal da Paraíba (de 1977 a 1986). De lá, seguiram para Recife, passando a integrar a Universidade Federal de Pernambuco. E resolveram deixar o Brasil, indo para os Estados Unidos, onde Garcia fez doutorado em Boston.
No retorno ao Brasil, nasceria o Festival Virtuosi, que realizou sua primeira edição em 1998. A ideia, contava Garcia, surgiu por conta da necessidade de dar ânimo à vida musical de Recife, então parada.
“O Virtuosi nasceu para oferecer ao público pernambucano e da região Nordeste uma música de excelente qualidade, a oportunidade de conhecer artistas nacionais e internacionais que normalmente não passam por aqui, a chance de ouvir e conhecer obras inéditas oferecendo classes gratuitas para estudantes da região, entre outras coisas.”
E os resultados logo começaram a aparecer. Ano a ano, o festival atraía mais artistas, brasileiros e estrangeiros, oferecia um repertório ambicioso e reunia jovens músicos, dando a chance de trabalharem com grandes professores. E, com o passar do tempo, espalhou-se para outras cidades do nordeste e do norte do país. Em algumas edições, montaram uma orquestra sinfônica, que chegou a viajar pela América Latina. Não por acaso, o Virtuosi tornou-se referência no calendário musical brasileiro.
Em 2012, perguntado sobre sua maior realização, Garcia não teve dúvida na resposta. “Eu acredito que seja o fato de poder contribuir para o enriquecimento da música no estado de Pernambuco. É levar para o público jovem e para o público tradicional que normalmente lotam nosso teatro uma música que em geral não é ouvida por aqui e nosso pagamento é o aplauso caloroso desse público. Através do calor de nosso público e da alegria de nossos artistas convidados sinto-me plenamente realizado e convicto de que o VIRTUOSI está no caminho certo.”
[O velório de Rafael Garcia será na quinta-feira, 14/10, a partir das 16 horas, na capela central do Cemitério de Santo Amaro, Recife/PE. O seu sepultamento será no mesmo cemitério, na sexta-feira, 15/10, às 11 horas da manhã.]
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