A violinista norte-americana Rachel Barton Pine sobe ao palco da Sala Minas Gerais nesta semana para interpretar o Concerto para violino de Roque Cordero. Pouco conhecido no Brasil, o compositor panamenho (1917-2008) teve uma trajetória marcada pelo diálogo entre a inspiração nacionalista e o interesse pela música de vanguarda.
Nascido na Cidade do Panamá, Cordero estudava para ser encanador quando a escola começou a oferecer aulas de música. Ele escolheu o violino. Em seguida, seguiu para o clarinete. Enquanto isso, foi autodidata nos estudos de harmonia e solfejo. Orquestração ele aprendeu também na prática, trabalhando como copista da Banda do Corpo de Bombeiros da Cidade do Panamá.
No início dos anos 1940, decidido a desenvolver uma carreira na música, ele mudou-se para os Estados Unidos. Ingressou na Universidade de Minnesota e paralelamente passou a estudar composição com Ernst Krenek e regência com Dmitri Mitropoulos. Foi quando sua música passou a incorporar técnicas de vanguarda, que ele passou a associar, à sua maneira, com elementos da música panamenha.
“Tive que integrar elementos técnicos da Europa… mas essa técnica tinha que ser verdadeira para mim, para expressar algo completamente pessoal. Não estou necessariamente citando canções folclóricas panamenhas porque muito raramente citei diretamente canções folclóricas panamenhas, mas utilizo elementos rítmicos e algum desenho melódico que pode ser encontrado lá sem ser nenhum em particular”, explicou ele em uma entrevista concedida em 1997.
Ainda nos anos 1940, Cordero estreou as Oito miniaturas para pequena orquestra, recebendo uma bolsa da Fundação Guggenheim e mantendo contato próximo com autores como Aaron Copland, Alberto Ginastera e Edgar Varèse. Em 1950, retornou ao Panamá para dirigir o conservatório e a orquestra nacionais – dezesseis anos depois, porém, cansado de lutar contra a falta de investimento do governo na atividade musical, voltou para os EUA. Lá, foi professor das universidades de Indiana e Illinois.
Conheça cinco obras-chave do compositor:
Oito miniaturas (1948)
Para Giana Milan, a peça é “um exemplo da síntese de influências, que se tornaria marca de seu estilo”. Para orquestra de câmara, a peça está repleta de ritmos latinos, como danzón, mejorana, punto e passillo, associadas à técnica dos doze sons.
Sinfonia nº 2 (1957)
“É uma peça muito forte e muito, muito pessoal. Gilbert Chase escreveu que eu era a prova de que uma técnica dodecafônica dita “proibida” não era um obstáculo entre algo que um homem quer dizer e um público ávido por ouvi-lo. Eles não precisavam saber que existia a técnica dodecafônica. Eles estavam apenas ouvindo música”, explicou o autor em uma entrevista realizada no ano 2000.
Concerto para violino (1962)
A obra foi escrita sob encomenda do maestro Sergei Koussevitsky. Cordero contou que, após terminar de escrevê-la, resolveu jogar fora todo o material e recomeçar. "Não apresso nenhuma peça. O Concerto para violino, levei vários anos para escrever. Cada pequena coisa leva muito tempo. Eu olho e se descubro que não é exatamente o que eu pretendia fazer, não entrego a peça para você tocar.” Para Milan, “a orquestração destaca elegantemente sua arquitetura emocional, explorando paletas expressivas, tímbricas e texturais variadas.”
Rapsódia panamenha (1988)
Escreve Milan: “Para violino solo, a peça infunde sutilmente elementos panamenhos em seu tecido musical, enquanto oscila entre passagens atonais angulares, lirismo intenso e explosões rítmicas ardentes.” A peça foi gravada por Rachel Barton Pine.
Cantara para paz (2017)
A obra é de 1947, mas só estreou dez anos após a morte do compositor. Foi escrita, diz Cordero, para “homenagear quatro homens que falaram de paz e foram vítimas de violência: Abraham Lincoln, Mahatma Gandhi, John F. Kennedy e Martin Luther King Jr., mas também é dedicada à memória de todos os homens, mulheres e crianças que morreram em nome de paz.”
“A minha ideia de paz não é o período tranquilo entre guerras, nem a paz perigosa provocada pela presença de forças fortemente armadas que se encaram através da terra de ninguém. O meu grito pela paz, por mais utópico que seja, é por uma paz interior, que permitiria à humanidade abraçar toda a humanidade, independentemente da cor, credo ou sexo, numa cadeia universal de amor e compreensão, ajudando a eliminar a fome e a fome. pobreza, construindo um mundo em que as crianças de todos os lugares possam brincar, rir e crescer sem a terrível sombra da morte ameaçando o seu amanhã.”
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