Retrospectiva 2023: Claudia Toni, especialista em políticas públicas para a cultura e assessora da Presidência da Fapesp – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.
Meu comentário contempla a importância que a voz tem assumido entre nós, sobretudo porque a ópera tem conseguido mais espaço em nossa programação. Tenho refletido que talvez já fosse tempo de pensar que tal importância devesse vir acompanhada de alguns movimentos.
Um deles se refere à atividade coral, pujante e viva em todo mundo, mas pálida e conservadora entre nós, visto que coros amadores e grupos vocais profissionais desapareceram de nosso cenário. Isso implica em que tenhamos mais regentes com grande conhecimento da voz e que as instituições culturais fomentem a prática coral, pois ela transforma a vida das pessoas e das comunidades.
Outro movimento deveria contemplar a formação, ainda feita sobre bases muito tradicionais, sem renovação na maneira de ensinar e preparar nossos jovens cantores. Além de melhor infraestrutura em nossas escolas, o que poderá prepará-los com vivências mais aprofundadas para sua futura vida profissional, é urgente refletir sobre como eles têm sido preparados. Sabemos que um conjunto amplo de disciplinas prepara o bom cantor para diversas facetas da profissão. Porém, a maneira de cantar é certamente a questão mais importante a ser observada.
É crucial não somente entender como escolas, em diferentes partes do mundo, têm preparado suas novas gerações de cantores, como também é urgente renovar nosso elenco de professores de canto. Sem isso, corremos o risco de estar educando os nossos de maneira tão diversa que eles não só não terão oportunidade em palcos estrangeiros, como também estarão reproduzindo por aqui modos de fazê-lo já muito ultrapassados.
Em 2024, o Festival Sesc de Música de Câmara acontecerá mais uma vez no mês de junho. Ele vem cheio de vozes, explorando possibilidades múltiplas porque a voz, mais do que nunca, deveria ser o centro de nossa vida cultural.
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