Renée Fleming renuncia como conselheira artística; comunidade artística e o público em geral manifestam preocupação com a diversidade cultural e a liberdade de expressão
Na sexta-feira da semana passada, dia 7 de fevereiro, o recém-empossado presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, criticou a programação do The Kennedy Center, um dos mais importantes centros culturais dos Estados Unidos, e anunciou planos para a instituição. “Decidi demitir imediatamente várias pessoas do Conselho Curador, incluindo o presidente, pois elas não compartilham de nossa visão para uma Era Dourada nas Artes e Cultura”, escreveu em sua rede Truth Social. E emendou: “Em breve anunciaremos um novo conselho, com um presidente incrível: DONALD J. TRUMP!”.
De fato, alguns dias depois, após a nomeação de 14 novos membros para o Conselho Curador, o órgão elegeu Donald Trump presidente em substituição ao bilionário filantropo David Rubenstein.
Ato contínuo, a diretora executiva Deborah F. Rutter anunciou a sua saída do cargo. Em comunicado enviado ao site News4, ela escreveu: “O objetivo do Kennedy Center sempre foi estar à altura de seu nome, servindo como um farol para o mundo e garantindo que nosso trabalho reflita a América. Deixo meu cargo orgulhosa de tudo o que realizamos para alcançar essa ambição”. E afirmou: “Minha vida inteira foi motivada pelos valores fundamentais da América – liberdade, igualdade e uma profunda crença no sonho americano. A expressão artística também é parte essencial da nossa experiência como nação. Os artistas expressam toda a gama de emoções da vida – das alturas mais sublimes da alegria até os abismos da tristeza profunda. Eles seguram um espelho para o mundo, refletindo quem somos e ecoando nossas histórias. O trabalho dos artistas nem sempre nos faz sentir confortáveis, mas lança luz sobre a verdade.”
Ric Grenell, um aguerrido defensor das políticas de Trump, assumiu interinamente o cargo de diretor-executivo. Trump, agora já como presidente do Conselho, comemorou na rede social: “Ric compartilha minha visão para uma ERA DOURADA das artes e da cultura americana e supervisionará as operações diárias do Kennedy Center. NADA MAIS DE SHOWS DE DRAG OU OUTRA PROPAGANDA ANTIAMERICANA – APENAS O MELHOR. RIC, BEM-VINDO AO SHOW BUSINESS!”
A ação de Trump gerou uma onda de protestos e vários profissionais renunciaram de suas funções no meio artístico norte-americano. O músico Ben Folds deixou sua posição como conselheiro artístico da National Symphony Orchestra. A soprano Renée Fleming também se demitiu de seu papel como conselheira artística. Além disso, a atriz e escritora Issa Rae cancelou um evento esgotado no Kennedy Center.
A comunidade artística e o público em geral manifestaram preocupação de que as ações de Trump possam comprometer a diversidade cultural e a liberdade de expressão no Kennedy Center, uma instituição historicamente apolítica e importante na diplomacia cultural norte-americana.
O John F. Kennedy Center for the Performing Arts, localizado em Washington, foi fundado em 1971 e apresenta uma programação diversificada que inclui ópera, teatro, balé, música clássica, jazz e eventos culturais internacionais. O centro é a sede da National Symphony Orchestra e da Washington National Opera. A sua administração é feita por um conselho curador de até 36 membros, alguns natos e outros nomeados pelo presidente dos Estados Unidos. Apesar de receber fundos federais para a manutenção de suas instalações, mais de 80% de seus recursos vêm de doações privadas, venda de ingressos e outras fontes de renda.
A interferência de Trump no The Kennedy Center parece ser uma ruptura com a tradição, aproveitando lacunas no sistema de nomeações para transformar o conselho em um instrumento de sua agenda política.
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