Dias 27 e 28 de setembro houve, em Araras, uma inédita manifestação sobre a ópera. Foi original, e foi importantíssima. Trata-se do 1º Encontro de Ópera Brasileira, que teve o subtítulo de Passado, Presente, e Futuro. Foi idealizado e realizado por Paulo Ésper no belo Teatro Estadual de Araras, concebido por Oscar Niemeyer.
O subtítulo Passado, Presente, e Futuro sintetiza a ambição do encontro: fazer um balanço histórico da ópera brasileira, discutir o presente e traçar caminhos para o futuro desse gênero. Ésper o concebeu como um misto de apresentações musicais e debates.
A ópera A noite de São João, de Elias Álvares Lobo com libreto de José de Alencar marcou a abertura na sexta, dia 27. Datada de 1860, essa obra sobreviveu apenas devido a uma partitura de canto e piano, mas foi novamente orquestrada por Mateus Araújo e, graças aos esforços do Conservatório de Tatuí, ressuscitou em belos cenários de Giorgia Massetani sob a batuta de Emmanuele Baldini.
Já fora representada em Tatuí e Juiz de Fora e, em Araras, teve excelentes intérpretes: o soprano Flavia Albano, o mezzo Cecília Massa, o tenor Maurício Etchebehere (jovem e notável revelação do último concurso de canto Maria Callas) e o barítono Isaque Oliveira, com a excelente Orquestra do Conservatório de Tatuí, sempre sob a regência de Baldini.
Historicamente, A noite de São João é uma obra importante para cultura brasileira, e sua apresentação em Araras contribuiu para a valorização do patrimônio musical do país. Mas não se trata apenas uma curiosidade de erudito: é uma deliciosa comédia, adorável na sua ingenuidade, cuja partitura mistura ecos da música internacional daquele tempo, sobretudo italiana, ao espírito das composições de salão brasileiras do século XIX, modinhas e valsas. Perfeita para pequenos teatros, ela deveria ser montada no Theatro São Pedro, em São Paulo, para que o público paulista possa descobri-la.
Os debates do segundo dia, brilhantemente conduzidos por João Luiz Sampaio, focaram em questões cruciais para a ópera brasileira. O crescente número de novas composições operísticas, a necessidade de recuperar obras esquecidas do século XIX e os desafios da colaboração entre libretistas e compositores foram alguns dos temas abordados. A troca de experiências e ideias entre os participantes permitiu um aprofundamento das discussões sobre o cenário atual da ópera no país.
Cito aqui os participantes: compositores Leonardo Martinelli, Mário Ferraro e Ronaldo Miranda; André Cardoso, presidente da Academia Brasileira de Música; cantores e produtores Adalgisa Rosa e Flávio Leite; Flávia Furtado, produtora e diretora executiva do Festival Amazonas de Ópera; Hudson Lima, coordenador de ópera e música de concerto da Funarte. Eu também pude intervir um pouco enquanto autor de libretos.
À noite, um recital sui-generis, cujo programa foi composto unicamente por trechos de óperas brasileiras (muito) contemporâneas, incluindo Inês, de João Rocha, ainda inédita! Thayana Roverso, Luiza Girnos e Vinicius Atique, acompanhados ao piano por Leandro Roverso, foram os solistas.
Disse, no início, que essa iniciativa de Paulo Ésper foi original, e foi importantíssima. Inovadora, ela não ficou confinada a debates puramente acadêmicos, nem a questões somente concretas: houve uma fusão dos mais variados pontos, com enfoques diversos. Teve uma forma viva, reflexiva e fecunda. Que este Primeiro Encontro seja seguido por muitos outros!
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