Em CD, Paul Lewis interpreta integral dos concertos e sonatas de Beethoven

por Redação CONCERTO 18/03/2020

Beethoven está fortemente presente no imaginário do mundo da música clássica – assim como algumas afirmações sobre sua obra. É o caso do olhar que entende ciclos de peças como conjuntos coesos, caso das sonatas e dos concertos para piano e orquestra.

É claro que, espalhadas por diferentes momentos da carreira do compositor, elas são capazes de revelar o seu desenvolvimento técnico e musical. Mas, como ressaltou o violinista a maestro Luis Otávio Santos em entrevista recente ao Site CONCERTO, é um erro ignorar o fato de que elas não nascem como um ciclo fechado. 
 
“Nós temos a tendência moderna de imaginar a concepção de um ciclo de sinfonias como algo fechado, como se desde o início estivesse previsto o seu desenvolvimento. É uma ideia errônea, romantizada. Elas, na verdade, vão sendo criadas e dialogam com o momento em que nascem”, explicou o músico.

Santos discutia essas ideias a partir da Sinfonia nº 8 de Beethoven. Mas elas vêm à mente também durante a audição da caixa de CDs recém-lançada pelo pianista britânico Paul Lewis com os cinco concertos para piano (nos quais é acompanhado pela Sinfônica da BBC e o maestro Jiri Belohlavek), as 32 sonatas e as Variações Diabelli

O coronavírus Covid 19 interrompeu a recente passagem de Lewis por São Paulo. Das três apresentações que faria do Concerto para piano nº 5, Imperador, ele pôde fazer apenas duas, antes que a Sala São Paulo fosse fechada. E não conseguiu começar a série de recitais que a Osesp vai dedicar à obra para piano de Beethoven, nos quais interpretaria, além de algumas sonatas, as Variações. 

Sem as apresentações, restam os CDs, testemunhos da imaginação musical que faz de Lewis um dos grandes artistas de nosso tempo. Entre os concertos, o número quatro é particularmente especial, pela transparência, pelo cuidado com as frases. É o menos heroico dos concertos de Beethoven, é verdade. Mas mesmo no enérgico terceiro ou no quinto, Lewis nunca soa exagerado: no Imperador, entende o movimento lento como alma da peça, “incrível, sensível, dolorido”, como afirmou em entrevista recente à Revista CONCERTO.

Nas sonatas e nas variações, sua preocupação é encontrar não um elemento comum, mas, justamente, ressaltar o que as peças têm de diferentes. É ele mesmo quem explica. “Quando você toca as 32 sonatas, acho mais importante valorizar o caráter único de cada uma delas. Aí talvez se possa fazer o caminho contrário e perceber que, quanto mais únicas essas peças são mais você distingue denominadores comuns. Por exemplo o modo como Beethoven sempre te faz questionar para onde a música está indo – e te leva para o lugar que você menos espera. Mas, quando estou ao piano, o que busco é mostrar o que essas peças não têm em comum.”

A caixa com os concertos e sonatas, assim como outros discos de Paul Lewis, estão disponíveis no site da Loja Clássicos; clique aqui

Leia mais
Revista CONCERTO
Momentos únicos: uma conversa com Paul Lewis
Colunistas Os 100 anos de Yara Bernette, por Irineu Franco Perpetuo

[Reprodução capa]
[Reprodução capa]

 

Curtir

Comentários

Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não refletem a opinião da Revista CONCERTO.

É preciso estar logado para comentar. Clique aqui para fazer seu login gratuito.