Festival Sesc propõe olhar ‘decolonial’ em leitura de missa de Padre José Maurício

por Redação CONCERTO 23/06/2022

A Orquestra Sinfônica da Universidade de São Paulo, os Meninos Cantores de Hamburgo e artistas da Ocupação Cultural Jeholu apresentam a partir de hoje, dia 23, a Missa de Santa Cecília do Padre José Maurício Nunes Garcia sob regência de Luiz de Godoy.

Hoje, o concerto acontece em Mogi das Cruzes; amanhã, em São Paulo; no sábado, em Guarulhos; e, no domingo, em Ribeirão Preto. O programa integra a programação do Festival Sesc de Música de Câmara. 

A missa foi a última peça escrita por José Maurício. A partitura indica o ano 1826 e o compositor morreu quatro anos depois, em 1830. Ela foi encomendada pela Ordem de Santa Cecília, irmandade que Nunes Garcia havia ajudado a fundar anos antes.

“É uma peça muito especial do repertório. Se houve uma obra em que ele escreveu cada nota porque quis, foi essa”, diz Godoy.

Foi dele a ideia de trazer ao Brasil os Meninos Cantores de Hamburgo, grupo do qual é diretor. E a escolha se deve a uma busca por uma perspectiva decolonial para a obra, propondo aos artistas alemães a chance de conhecer a produção musical brasileira.

“Trabalhei muito com os meninos o contexto dessa peça. Expliquei que ela surge em um momento em que a música no Brasil era feita por negros, por exemplo. E pudemos falar também de um processo hegemônico pela qual a cultura europeia chegou ao Brasil, mas como ela também vai significar para esses músicos, reunidos nas irmandades, uma possibilidade de autonomia”, conta o maestro.

Desse olhar surgiu também a ideia de colaborar com os artistas da Ocupação Cultural Jeholu, que se dedica a pensar o espaço para o negro na música clássica, e a escolha de um time de solistas composto por cantores negros, do qual fazem parte artistas como a soprano Erika Muniz, o tenor Mar Oliveira e o barítono Davi Marcondes.

Segundo Godoy, reger a Missa era um sonho antigo. “É uma obra especial dentro da obra dele. José Maurício não costumava guardar suas partituras, que eram entregues aos músicos para os quais era escrita. Mas da Missa ele manteve uma cópia que entregou ao filho e pediu que guardasse. Ele também via a obra como algo especial.”

O maestro chama atenção para os contrastes da partitura, e as influências que ela recebe – assim como aquilo que antecipa. “É interessante pensar que ela tem a mesma instrumentação da Missa do Schubert, que vem dois anos depois”, ele conta. “A obra traz tudo aquilo que José Maurício fez e um olhar para o futuro. Ele evoca as árias de bravura de Rossini, por exemplo, mas não escreve ópera ou música italiana. São paletas que ele tem a sua disposição e com as quais trabalha com um olha brasileiro.”

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Luiz de Godoy [Divulgação/Lukas Beck]
Luiz de Godoy [Divulgação/Lukas Beck]

 

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