Jake Heggie e Margareth Atwood criam canções sobre feminicídio

 “Who was my sister/ is now an empty chair/ Is no longer / Is no longer there / She is now emptiness/ She is now air.”

“Aquela que foi minha irmã,/ é agora uma cadeira vazia / Não está mais,/ Não está mais ali/ Ela é agora o vazio/ Ela é agora o ar.”

Assim começa o novo ciclo de canções do compositor norte-americano Jake Heggie, cuja primeira gravação mundial foi lançada na semana passada e está disponível em plataformas de streaming, com interpretação do próprio compositor e do barítono Joshua Hopkins.

Partiu do próprio Hopkins a ideia da criação de Songs for murdered sisters. Há cinco anos, sua irmã, Nathalie Warmerdam foi assassinada por seu ex-marido, Basil Borutski. E o cantor sentiu a necessidade de refletir sobre o episódio por meio da música.

Ele então procurou Jake Heggie, autor de canções já gravadas por artistas como a mezzo soprano Joyce Di Donato e Renée Fleming. E ele por sua vez procurou a escritora Margareth Atwood, autora de livros marcantes como O conto da aia, O assassino cego e O ano do dilúvio, para que escrevesse o texto. 

“Eu conheci duas mulheres mortas por antigos namorados, então o assassinato da irmã de Joshua mexeu comigo”, explicou Atwood em uma entrevista ao jornal The Guardian. “Um homem assassinou naquele mesmo dia duas outras mulheres além de sua irmã. E, para cada uma dessas pessoas, você tem um grupo de indivíduos que é afetado. Seus amigos, familiares, um buraco é criado em suas vidas. É devastador. Joshua me falou muito sobre suas emoções. E eu tentei colocá-las no texto também.”

Heggie, por sua vez, contou ao jornal que procurou criar um ciclo semelhante em certo sentido ao Winterreise, de Schubert. “Mas aqui temos um andarilho tentando encontrar sentido no mundo, destruído pela dor e buscando transformação, conexão, significado, talvez redenção. Atwood escolheu palavras que pudessem ser cantadas, deixando também espaço para interlúdios musicais. Na penúltima canção, ela colocou uma pergunta no ar: e se você pudesse perdoar? Essa questão abriu novas possibilidades, trouxe uma nova luz.”

A princípio, o ciclo Songs for murdered sisters, encomendado pela Houston Grand Opera, seria apresentado em versão para grande orquestra. Com a pandemia, no entanto, o teatro e os artistas resolveram criar uma versão para piano e voz e produzir também um vídeo que pode ser visto até o dia 21 de março no site da companhia. 

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