Meio musical se mobiliza para ajudar o Rio Grande do Sul

por Luciana Medeiros 14/05/2024

A tragédia das enchentes no Rio Grande do Sul vem mobilizando a população brasileira na forma de donativos e arrecadação de alimentos, água e material de higiene. Também os artistas da música clássica reúnem doações e promovem iniciativas para ajudar seus confrades gaúchos. 

Diretor artístico da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, Evandro Matté, conta que a sala de concertos não foi atingida pelas águas, mas o Centro Administrativo Fernando Ferrari, onde está situada, foi cercado pelas águas. “Só se chega lá de barco”, relata o regente. “Pelo menos dois músicos da orquestra tiveram perda total de suas casas e bens, além de famílias dos jovens da nossa escola e do Teatro São Pedro. A situação é muito triste."

A Associação de Funcionários da Fundação OSPA (AFFOSPA) está concentrando as ações e recebendo as doações. “Estamos abastecendo três abrigos, coordenando as ações com músicos e funcionários que agem como voluntários”, explica o presidente da AFFOSPA, o contrabaixista Rafael Figueiredo. “Abrimos logo um pix para receber doação de recursos, até agora com cerca de R$ 80 mil; estamos recebendo ajuda em alimentos, água e outros artigos básicos que instituições e orquestras estão enviando”. Além disso, Rafael está separando parte da doação para a pós-tragédia, “a hora da reconstrução”, diz. 

Segundo Rafael, já chegaram caminhões de doações das orquestras de Campinas, da Sinfônica Brasileira, da Sinfônica de Minas Gerais e da a Sinfônica do Paraná, entre outras. “Também estamos recebendo ajuda financeira de associações das orquestras e de músicos do mundo inteiro, como os de Londres e Berlim.” 

Murilo Alves, violoncelista carioca que integra a OSPA, trabalha também na direção da escola da orquestra, que tem 300 alunos. “Temos checado a situação de todos. Da orquestra, músicos como José Milton – que teve de abandonar a casa com a família – e Douglas Gutjahr estão atuando fortemente no preparo de lanches para voluntários de salvamento e abrigos: Um quarteto com dois músicos da OSPA e convidados se apresentou para pessoas refugiadas no abrigo da Sogipa nesse fim de semana.”

O Theatro Municipal do Rio de Janeiro estará recolhendo doações em alimentos e artigos de higiene nas bilheterias e nas récitas de O Lago dos Cisnes, a partir do dia 17. “Estamos também fechando datas de eventos artísticos em maio e junho para direcionar a renda para a OSPA e a Companhia de Ópera do Rio Grande do Sul”, diz o diretor artístico Eric Herrero. O Theatro Municipal de São Paulo fez uma arrecadação na última récita da ópera Carmen e também considera a realização de um concerto com a renda revertida para o Rio Grande do Sul. 

Em São Paulo, a mezzo-soprano Mere Oliveira e as agências Opera Atelier Artists e Duo Conexões Culturais já estão programando mais de 15 concertos com a renda revertida para os artistas do Rio Grande do Sul, a série Lírica Pró-RS. “Serão realizados em várias cidades do interior de São Paulo, bem como a capital, além do Rio de Janeiro, Florianópolis e Curitiba, numa ação voluntária cuja arrecadação será 100% destinada”, adianta Mere. “Tudo em prol das famílias da Companhia de Ópera do Rio Grande do Sul e da AFFOSPA”, completa. “A agenda sai em poucos dias”.

O cravista Fernando Cordella, que mora na parte alta do Centro Histórico, está preso há duas semanas em São Paulo. “Cancelaram três voos. Minha casa e minha família não foram atingidas, mas a situação está crítica e estamos nos mobilizando na Bach Society, a começar por um cadastro no nosso site (bachbrasil.com), e direcionando os recursos dos nossos assinantes em maio e junho para ajudar a quem precisa.” Cordella, diretor artístico da Bach Society Brasil, também tem o projeto de formar grupos de músicos e, em breve, fazer concertos nos abrigos. “Remunerando esses músicos, claro, que precisarão voltar a trabalhar.”

O violoncelista Hugo Pilger, nascido em Porto Alegre, está devastado e preocupado. “Claro que precisamos salvar vidas em primeiro lugar, mas pensamos sempre no que foi perdido na história, na cultura, na identidade – quantos instrumentos, partituras, documentos. E me horroriza pensar que é um evento trágico, mas não o único, e que ninguém mais está em segurança no planeta. A reconstrução vai envolver um esforço e um gasto imensos, inclusive de água, que impactam ainda mais o equilíbrio ecológico”.

Muitos parentes de Hugo perderam tudo, incluindo casas que desapareceram nas regiões do Vale do Taquari. “Um riachinho de metro e meio subiu 30 metros. Das casas não sobraram nem as fundações.”

O tenor gaúcho Giovanni Tristacci também tem família no Vale do Taquari e lembra que há poucos meses houve enchentes por lá. “Não foram atingidos por deslizamentos, mas o cenário é de horror, a apreensão é enorme.” Ele acrescenta que o trabalho de recuperação vai ser gigantesco. “Espero que a ajuda não pare quando a tragédia sair do noticiário. São anos de trabalho para a reconstrução. Participarei de concertos com renda revertida para o Sul e penso que contratantes podem considerar, em breve, dar apoio aos artistas de lá, porque a classe vai precisar de muita ajuda.”

“As consequências estão sendo muito duras”, diz o regente gaúcho Tobias Volkmann, cuja família e amigos estão vivendo pessoalmente a tragédia no Vale do Taquari, com perda de casas. Regente titular da Orquestra Sinfônica da USP, o grupo reforçou os pedidos de doações. “É preciso manter a ajuda por muito tempo, porque economia vai ficar parada, a infraestrutura acabou."

PIX para doações para a AFFOSPA: CNPJ 90.273.137/0001-02.
PIX para doações Companhia de Ópera do Rio Grande do Sul: coopera@ciaoperars.com
PIX Governo do Estado do Rio Grande do Sul: CNPJ 92.958.800/0001-38

Vista aérea de Porto Alegre [Reprodução/YouTube]
Vista aérea de Porto Alegre [Reprodução/YouTube]

 

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É muito triste assistir tudo o que está acontecendo e não poder abraçar a todos que estão sofrendo... a quantidade de vidas perdidas... foi uma conjunção de eventos climáticos que destruíram nosso Estado e que, infelizmente, se repetirão aqui e pelo mundo afora. Esperamos que os negacionistas do aquecimento global reconheçam o que está acontecendo e arregacem as mangas para ajudar a diminuir os efeitos catastróficos da interferência do homem na natureza. Força Gaúchos!!!!

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