Morreu na última quinta-feira, aos 101 anos, a pianista Maria Josephina Mignone. Ela estava internada em São Paulo desde o dia 29 de junho, quando sofreu uma queda em casa. Nome importante do piano brasileiro, ela desenvolveu carreira como solista e camerista, além de ter atuado como professora. Nos últimos anos, dedicou-se a um fundamental processo de resgate de gravações históricas da obra de Francisco Mignone.
Natural de Belém do Pará, Maria Josephina começou a estudar piano na infância, após o contato com o instrumento da avó, e logo entrou para o Instituto Gentil Bittencourt e, em seguida, para o Conservatório Carlos Gomes. A vitória em um concurso da instituição garantiu a ela uma bolsa para ir ao Rio de Janeiro, onde foi aluna de Magda Tagliaferro e Arnaldo Estrella.
Sua trajetória como pianista deu atenção especial ao repertório brasileiro e à formação de novos pianistas, a princípio na Academia Lorenzo Fernandez. Foi lá que, na década de 1960, ela conheceu Francisco Mignone, com quem se casaria e formaria um duo que seguiu ativo até 1986, ano da morte do compositor.
Já nos anos 2000, Maria Josephina e sua filha Anete Rubin começaram um projeto de resgate de gravações históricas da obra de Mignone. Trata-se de um dos mais importantes trabalhos de resgate da memória da música brasileira das últimas décadas, oferecendo um olhar não apenas para a trajetória de Mignone como autor mas para a vida musical do país nos últimos 70 anos ¬– o projeto é realizado com recursos próprios, sem qualquer tipo de financiamento externo.
“Hoje, a casa de Maria Josephina, no Rio de Janeiro, foi convertida em um verdadeiro estúdio doméstico, dotado de piano de cauda e onde são gravados os discos da coleção. Além de registros novos, ela trabalha com material antigo, disponível nos mais diversos formatos e muitas vezes licenciado junto a entidades como a Funarte e o Selo Festa”, escreveu Irineu Franco Perpetuo na Revista CONCERTO em dezembro de 2019.
Ao todo, o projeto já lançou catorze discos, dedicados a várias facetas da carreira do compositor, com especial atenção para sua música para piano, inclusive com gravações feitas por Maria Josephina, que também trabalhou ativamente na edição de partituras, como as das 24 Valsas brasileiras para piano.
Maria Josephina também lançou o livro Cartas de Amor, com a correspondência trocada com o marido. São cartas de importância histórica e, ao mesmo tempo, permitem observar facetas da vida íntima do compositor, revelando impressões sobre o meio musical, o carinho que tinha pela família e discussões sobre música.
“Após sua morte, senti-me perdida. Foi um período difícil. Mas a arte e sua tão presente lembrança ajudaram-me a querer captar toda a formosura da vida, envolvida pelos sons e harmonia de suas obras. Assim, resolvi trazer a público nossas cartas de amor por pensar que Francisco Mignone nelas deixa transparecer toda a riqueza de sua alma de músico genial e de sua personalidade generosa e excepcional”, escreveu ela na apresentação do livro.
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