Faleceu ontem, dia 3, no Rio de Janeiro, o gestor, empresário e figura destacada da música de concerto Walter Santos, aos 84 anos. Ele começou a atuar na música a partir da década de 1960, como barítono, e, nos anos 70 e 80, tornou-se o maior empresário musical do país, através da Aulus Produções Artísticas, que representou solistas, cameristas e orquestras, nacionais e internacionais e até o Grupo Corpo.
Nos anos 1960, ele integrou o Conjunto Roberto de Regina como barítono, mas, logo em seguida, envolveu-se com gestão, tornando-se um respeitado empresário da música. Em sua carreira, atuou também como adjunto do compositor Ronaldo Miranda na Sala Cecília Meireles, no Rio.
“Entre 1995 e 1998, Leonel Kaz nos juntou na direção da Sala Cecília Meireles; depois, passou a ser meu superior, assumindo a Vice-Presidência da Funarj. Juntos criamos diversos ciclos de concertos para a Sala, em especial a Série Concert Hall, para qual foi fundamental a experiência prévia de Walter e sua amizade com Gérald Perret (Sociedade de Cultura Artística) e Alejandro Sterenfeld (na época, o maior empresário de Buenos Aires)”, contou Miranda em suas redes sociais.
“Assim, a Série Concert Hall tornou-se um cenário de estrelas de primeira grandeza, como Philippe Herreweghe, Jordi Saval, I Musici, Nelson Goerner, William Christie e Les Arts Florissants, Nelson Freire e Antonio Meneses.” Além dos solistas, a Orquestra Sinfônica Brasileira, com o maestro Roberto Tibiriçá, foi parceira da Sala nesse período. “O Duplo de Brahms, com Meneses e Claudio Cruz, ficou registrado na lista dos melhores momentos da casa”, destacou o compositor.
Na Funarj, Walter Santos “criou séries como Ópera na Sala, na Sala Cecília Meireles, e o Seis e Meia no Teatro João Caetano”, lembra o compositor e gestor João Guilherme Ripper, “além de fomentar óperas e espetáculos musicais nos teatros da FUNARJ". "Tinha um imenso bom gosto e foi para mim um generoso conselheiro em meus primeiros anos como diretor da Sala Cecília Meireles”. Ele também ocupou a vice-presidência do Theatro Municipal do Rio de Janeiro e foi subsecretário de cultura do Estado do Rio de Janeiro.
Outro dos solistas brasileiros mais importantes da atualidade, o cravista Marcelo Fagerlande, lembra que “Walter Santos foi um grande amigo e fiel parceiro em projetos operísticos”. “Aprendi tanto com ele, que conhecia os segredos de uma produção como poucos e tinha um grande conhecimento de voz. Ele me confiou a regência do Orfeu na Sala, em 1998, e mais tarde no Theatro Municipal, em 2007. Juntos fizemos várias produções no CCBB: Barroco! (50 apresentações no Rio, em São Paulo e Brasília), O Último Dia e D. Quixote. Fazer ópera e produzir no Brasil não é fácil e se consegui sucesso em tantos projetos, devo muito a Walter.”
Walter foi casado com a cantora e professora de canto Eliane Sampaio e tinha dois filhos. Enfrentava longa enfermidade.
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