O mundo do piano perdeu dois grandes mestres. O pianista romeno Radu Lupu morreu no domingo, dia 17, em sua casa na Suíça, após uma longa doença que o fez se afastar dos palcos em 2019. Ele estava com 76 anos. Já o americano Nicholas Angelich faleceu nesta segunda-feira, dia 18, aos 51 anos, por conta de uma doença degenerativa.
“Radu Lupu tocava com a mais expressiva gentileza, a mais nobre grandeza. Suas interpretações limitavam-se ao essencial, modelado a partir de uma paleta de timbres e cores que apenas ele possuía”, escreveu ontem o crítico Julian Sykes em Le Temps.
Lupu nasceu na Romênia em 1945 e, com 16 anos, entrou para o Conservatório de Moscou. Não muito tempo depois, venceria os concursos Van Cliburn e George Enescu e a Leeds International Piano Competition. As vitórias lhe garantiram um contrato de exclusividade com o selo Decca, pelo qual gravou obras de Mozart, Beethoven, Schubert, Schumann e Brahms.
Lupu era avesso a entrevistas e não permitia que seus concertos e recitais fossem gravados ao vivo. Mas isso não impediu que seu nome aparecesse sempre entre os grandes intérpretes do século XX, admirado por colegas como Daniel Barenboim, Murray Perahia, Barbara Hendricks e tantos outros músicos com os quais colaborou.
"Se me pedissem para resumir a arte do pianista Radu Lupu em uma única frase, seria ‘o Carlos Kleiber do piano’, significando perfeccionismo no detalhe combinado com imaginação musical e uma compreensão invariável de onde a música está indo... Lupu dá a impressão de alguém que estava pensando na música muito antes de tocá-la, de modo que cada colcheia tem seu lugar, e cada nuance, seu efeito designado. E, no entanto, os resultados finais raramente soam calculados, tal é a profundidade e persuasão da sua musicalidade”, afirmou o crítico Rob Cowan, na revista Gramophone.
Nicholas Angelich nasceu nos Estados Unidos. Por muitos colegas, foi chamado de “o poeta do piano”. Estudou na França, mas fez sua estreia profissional tocando com a Filarmônica de Nova York e o maestro Kurt Masur, que o levou para a Europa, como um dos mais interessantes representantes da nova geração.
Ao longo de sua carreira, Angelich foi especialmente celebrado por suas interpretações da música de Brahms. Seus registros do Concerto nº 2 do compositor estão entre as gravações de referência da peça, sobre a qual escreveu em artigo de 2016: “Existem alguns momentos muito difíceis em todo o concerto, e acho importante nunca pensar neles como ‘virtuosísticos’. A solução é pensar as coisas de uma forma musical – como você dá sentido musical a algo? Obviamente, você nunca deve ser superficial, e mesmo quando você está apenas tentando entender pianisticamente como fazer as coisas melhor, você deve pensar de uma maneira musical. Nunca deve ser algo apenas técnico”.
Ao saber da morte de Angelich, o violinista Renaud Capuçon, com quem se apresentava constantemente, escreveu: “Como seu som, você era brilhante e terno ao mesmo tempo. Você foi um pianista extraordinário, um amigo sensível, fiel e generoso. Sua partida abrupta nos deixa com um grande vazio. Nunca mais vou tocar uma nota de Brahms sem estar perto de você”.
É preciso estar logado para comentar. Clique aqui para fazer seu login gratuito.
Comentários
Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não refletem a opinião da Revista CONCERTO.
assim como o amado Nelson…
assim como o amado Nelson Freire, o mundo musical, e não somente pianístico, tem tido perdas irreparáveis. muito triste.