Projeto Orquestra nas Escolas recria obra de Tom Jobim

por Luciana Medeiros 17/08/2020

Na tela dividida em quadradinhos, os rostos são jovens, alguns muito jovens. Tocam flautas, trompas, fagotes, violinos, além de bateria e contrabaixos – elétrico e acústico – na sincronia da performance virtual. O som na caixa – do computador ou do celular – é o do maestro soberano, Tom Jobim, cuja obra preside a parceria entre o projeto Orquestra nas Escolas, da Secretaria Municipal do Rio de Janeiro, com o Instituto Antônio Carlos Jobim.

Criado em 2017, o Orquestra nas Escolas atende hoje 52 escolas do município do Rio com aulas de música e prática de conjuntos. Até hoje, segundo os dados da Secretaria de Educação, foram 80 mil jovens beneficiados com as aulas e a participação em 16 grupos orquestrais, como a Sinfônica Juvenil. “A música entra aí como patrimônio essencial ao ser humano”, diz Moana Martins, coordenadora. “As nossas recriações, apropriações no melhor sentido, fazem a ponte com o interesse dos meninos e meninas.” Essa miscelânea cultural tem sido a base de eventos de encerramento de criação coletiva – em 2018, dedicado aos Beatles e, em 2019, com a Epopeia Nordestina. “Teve a participação de Moraes Moreira em uma de suas últimas aparições.”

 

A ligação entre o projeto municipal e o instituto teve a mão do gaitista e professor José Staneck. “Nós damos o conteúdo e eles fazem a parte pedagógica”, explica o maestro e compositor Aluísio Didier, presidente do Instituto. “Tom não é somente um músico – é um universo de temas, ideias, literatura, a paixão pela natureza.” O repertório é de hits do compositor carioca – Samba de uma nota só, Garota de Ipanema e Corcovado já estão no ar e vêm aí Wave, Chega de saudade, O morro não tem vez e Se todos fossem iguais a você, uma a cada semana, até 4 de setembro. Cada gravação foi relacionada a um tema – folclore, saudade, samba, por exemplo. “Entrar em contato com Tom Jobim pode ser a chance de uma transformação, de um ponto de inflexão na vida de um jovem, como foi para mim com o disco Matita Perê, de 1973”, lembra Didier.

 

Quem conhece a obra de Tom Jobim – que inclui a Sinfonia do Alvorada, de 1960 – não vai estranhar o som orquestral associado às canções, com arranjos de Vinícius Louzada. Um apaixonado pelo Impressionismo, Tom usava estruturas harmônicas e temas de Ravel e Debussy, seus compositores favoritos. A sofisticação, mesmo nas canções aparentemente mais simples, continua a posicionar entre os grandes da música brasileira esse carioca nascido em 1927, que começou a tocar num piano abandonado na garagem da casa em Ipanema e teve aulas com Hans Joachim Koellreutter. 

 

“O projeto Orquestra nas Escolas se destina não só a desenvolver a musicalidade e a expressão artística como a proporcionar aos alunos a diversidade cultural, do popular ao clássico”, reafirma Moana Martins. “E a ideia é que a música se apresente nas suas transdisciplinaridades, do idioma à História, à Geografia, à Filosofia. Assim que pudermos, voltaremos às aulas e aos eventos presenciais.” 

Moana encerra contando que já atendeu, nessa leva de jobinianidades, a muitas curiosidades da meninada. “Ontem mesmo uma das alunas veio me dizer que estava maravilhada com os músicos e artistas associados ao Tom Jobim que foi descobrindo – de Frank Sinatra a Stan Getz. São caminhos que levam ao mundo, às linguagens, às culturas.” Didier confirma: “E queremos seguir colaborando para outras leituras da obra de Tom Jobim”.

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