Retrospectiva 2024: Sabine Lovatelli, fundadora e presidente do Mozarteum Brasileiro
“Nossa programação de 2024 refletiu, com muito equilíbrio, os propósitos do Mozarteum. Como sempre, trouxe para nosso público grandes artistas da cena internacional. A soprano Diana Damrau realizou apresentações arrebatadoras e Daniil Trifonov, pianista mais cultuado do momento, fez sua estreia brasileira, comprovando sua genialidade. A maestra Marin Alsop, junto com o pianista Jean-Yves Thibaudet e a mais importante orquestra jovem dos Estados Unidos – a National Youth Orquestra – também foram presenças significativas, que somaram vitalidade à nossa temporada. Tivemos ainda o violinista Oscar Bohórquez, em um belo encontro com a Orquestra Acadêmica Mozarteum Brasileiro. Desta série internacional, fez parte uma artista com especial significado para o Mozarteum: a mezzo-soprano brasileira Josy Santos, que abriu nossa temporada em um concerto com o pianista alemão Markus Hadulla. Hoje radicada na Europa, onde desenvolve expressiva carreira, Josy Santos mostrou seu altíssimo nível técnico e artístico em uma apresentação esplendorosa, entusiasticamente elogiada pela crítica. Tal resultado é extremamente gratificante para nós porque Josy Santos faz parte da história do Mozarteum, que reconheceu o talento desta formidável cantora quando ela estava dando seus primeiros passos artísticos. Por meio de uma bolsa de estudos do Mozarteum, Josy conseguiu estudar na Alemanha e, a partir de então, passou a construir sua admirável carreira.
Assim como Josy Santos, muitos outros músicos brasileiros têm expandido seus horizontes graças ao programa socioeducativo que o Mozarteum conduz com a mesma ênfase dada às suas afamadas temporadas internacionais. Abrir portas para jovens músicos por meio de bolsas de estudos que muitas vezes os levam para importantes instituições internacionais de ensino é uma ação constante do Mozarteum. Mantém-se ano a ano, somando-se a iniciativas correlatas, como a Orquestra Acadêmica Mozarteum Brasileiro, que também tem a função de proporcionar oportunidades.
Em 2025, teremos novamente a satisfação de destacar um artista que se revelou em um de nossos programas socioeducativos. Vinicius Costa, baixo-barítono que participou como bolsista de nossa academia Canto Mozarteum, realizará um concerto em agosto, em companhia do pianista francês Pierre-Nicolas Colombat. Desde que começou a estudar e se apresentar no exterior, Vinicius vem conquistando admiradores. Merece, portanto, atenção e visibilidade cada vez maiores. Seu evidente talento já lhe confere status para integrar nossa temporada internacional. No próximo ano também vamos reencontrar artistas fenomenais, que já brilharam em nossas programações. Com Rudolf Buchbinder, lenda do piano, teremos o privilégio de ouvir um dos maiores performers de nossa época, em dois concertos no mês de junho. Ainda em junho, receberemos o Coro da Cidade de Washington, cujos 140 cantores apresentarão a Missa em si bemol maior de Mozart, junto com a Orquestra Acadêmica Mozarteum Brasileiro, sob a batuta da maestra Erin Freeman. Em agosto celebraremos os 100 anos de Oscar Peterson (1925-2007). Um dos maiores pianistas de jazz de todos os tempos, Peterson arrebatou plateias brasileiras, quando aqui esteve em 1985 e 1987, a convite do Mozarteum. Seu centenário será lembrado em 2025 através da turnê mundial do Oscar Peterson Centennial Quartet, que estará em nossa programação, em companhia da Orquestra Acadêmica Mozarteum Brasileiro. Em outubro, o talento de nossos jovens músicos estará em foco novamente, com Noite das Estrelas. Este espetáculo, que o Mozarteum vem realizando a cada dois anos, tem o objetivo de destacar ex-bolsistas que hoje desenvolvem carreiras promissoras. Em novembro, teremos novos e mais empolgantes momentos com Bryn Terfel, o maior baixo-barítono da atualidade, cuja estreia brasileira foi promovida pelo Mozarteum em 2023. Esperamos completar nossa programação de 2025 com mais uma personalidade fascinante da música – o violinista letão Gidon Kremer, programado para abril, em conjunto com sua orquestra de câmara, a Kremerata Baltica. (No entanto, a confirmação deste programa depende de articulações de outras apresentações pela América do Sul.)
Reunindo personalidades consagradas e talentos em ascensão, o Mozarteum pretende proporcionar mais uma temporada luminosa para as plateias brasileiras. Ao mesmo tempo, acreditamos ser importante ressaltar que tais realizações implicam, cada vez mais, em desafios financeiros que envolvem busca constante de patrocínios, adequações a leis de incentivo e políticas culturais. Contar com leis de incentivos em âmbitos federal, estadual e municipal é uma conquista para a área cultural. Porém, o aprimoramento constante destes mecanismos é tema que, esperamos, esteja na pauta de todos os governos. São Paulo, por exemplo, como cidade e estado, demanda montantes maiores e cada vez mais ágeis para sua pujante produção, através de leis do ProAc e Promac. Já a quantidade de editais que procuram atender, muito justamente, a maior quantidade possível de regiões brasileiras, não deveriam, entretanto, excluir São Paulo, cidade e estado que contribuem enormemente para a cultura do país como um todo. Por sua vez, às empresas patrocinadoras cabe aprofundar seu compromisso com a cultura como motor social, humano e econômico do país. Quantidade e qualidade devem caminhar juntas, valorizando o que há de novo e também iniciativas e empreendimentos que possuem história consolidada na trajetória cultural brasileira.” [Depoimento de dezembro de 2024]
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