Vinte e cinco compositores e compositoras negras, do século XVIII aos dias atuais

por Redação CONCERTO 20/11/2024

Após décadas – e, em alguns casos, séculos – de esquecimento, motivado por preconceitos, a cena da música clássica tem enfim resgatado compositores e compositoras negras; conheça abaixo a trajetória e a obra de vinte e cinco deles. 

Joseph Bologne, Chevalier de Saint-Georges (1745-1799)
O compositor francês foi um dos principais músicos a atuar na corte de Maria Antonieta, escrevendo sinfonias, concertos e óperas, entre elas L’amante anonyme. Também foi um célebre esgrimista, entrando para a carreira militar e integrando a guarda real – mais tarde se tornaria o primeiro coronel negro do exército francês.

 

Padre José Maurício Nunes Garcia (1767-1830)
Considerado o mais importante compositor brasileiro do fim do século XVIII e início do XIX, foi nomeado Mestre da Real Capel do Rio de Janeiro após a chegada da corte portuguesa ao Brasil, em 1808. Anos mais tarde, com a presença no Brasil de Marcos Portugal, perdeu espaço na cena musical e morreu na pobreza.

 

Henrique Alves de Mesquita (1830-1906)
Autor da ópera Uma noite no castelo, recentemente resgatada pela UFRJ em montagem em Juiz de Fora, foi o primeiro aluno do Conservatório Brasileiro de Música a ser enviado para a Europa pelo governo brasileiro, para realizar seus estudos. Trompetista, também atuou como instrumentista e foi professor do Instituto Nacional de Música. 

 

Antônio Carlos Gomes (1836-1896)
O autor de óperas como O guarani e O escravo foi o grande compositor brasileiro do século XIX. Descendente de negros, sua imagem passou, ao longo dos anos, por um processo de branqueamento tornado evidente pelos seus retratos. Na Itália, foi um dos responsáveis pela transformação da ópera em direção ao verismo.

 

Chiquinha Gonzaga (1847-1935)
Pianista e compositora, Chiquinha Gonzaga é figura fundamental para se entender os caminhos da música brasileira na passagem do século XIX para o século XX. Participou ativamente do desenvolvimento da música urbana carioca. De ascendência negra, lutou pela Abolição da Escravidão, além de se envolver em outras causas marcantes da época.

 

Francisco Braga (1868-1945)
Em 1890, conquistou o primeiro lugar no concurso para admissão no Conservatório de Paris, onde foi aluno de Jules Massenet. Também viveu na Alemanha antes de voltar ao Brasil. Autor de obras como a ópera Jupyra e o poema sinfônico Marabá, tocado pela Filarmônica de Viena, foi também titular da Orquestra do Theatro Municipal do Rio.

 

Samuel Coleridge Taylor (1875-1912)
Nascido em Londres, estudou violino antes de se dedicar à composição. Sua obra mais célebre é The Song of Hiawatha baseado no poema de Henry Wadsworth Longfellow sobre a história americana, o que o levou a desenvolver carreira também nos EUA. Morreu aos 37 anos, em um momento em que passava por grave crise financeira.

 

Florence Price (1887-1953)
Primeira compositora negra norte-americana a ter uma sinfonia estreada por grande orquestra, em 1933. Em 2008, foram encontrados em uma casa abandonada próxima a Chicago pacotes com composições até então desconhecidas da autora, incluindo obras de grande magnitude, como dois concertos para violino e sua quarta sinfonia.

 

William Grant Still (1895-1978)
Aos 15 anos, começou a estudar violino. Mais tarde, após abandonar o curso de Medicina, fez aulas de composição com Edgar Varèse. Em 1934, ganhou o prêmio da Fundação Guggenheim. Dois anos depois, foi o primeiro compositor negro a reger obras suas com uma grande orquestra americana. Entre suas peças, estão nove óperas.

 

Margareth Bonds (1913-1972)
Como pianista, foi a primeira solista negra a se apresentar com a Orquestra Sinfônica de Chicago. Seu trabalho como compositora inclui arranjos de jazz, músicas para filmes, canções populares e música coral. Nesse contexto, suas canções têm enorme importância, muitas delas fruto da parceria com o poeta Langston Hughes.

 

Emahoy Tsegué-Maryam Guèbrou (1923-2023)
Nascida na Etiópia, mudou-se para a Suíça com a família ainda na infância. De volta a seu país, precisou abandoná-lo novamente por conta da guerra. Estudou,então,com o violinista polonês Alexander Kontorowicz. Homesickness e The Garden of Gethesemanie, para piano, estão entre suas principais obras.

 

Ayo Bankole (1935-1976)
O compositor nigeriano teve um final de vida trágico: foi assassinado por um grupo criminoso de Lagos sobre o qual havia escrito uma obra de tom crítico. Compôs, ao longo da carreira, peças na língua iorubá. Sua obra para piano inclui a sonata The Passion e as suítes African Suite e Nigerian Suite.

 

Julius Eastman (1940-1990)
Músico de caráter experimental, trabalhou em parceria com artistas como Arthur Russell, Meredith Monk e Pierre Boulez.  A partir de elementos do mimnimalismo e de técnica estendidas, criou o que chamava de "música orgânica", e abordou em sua obra questões raciais e de gênero, em peças como Gay Guerrilla e Nigger Faggot.

 

Tania Leon (1943)
Nasceu em Cuba e, aos 24 anos, mudou-se para Nova York. Dois anos depois, criou o Arthur Mitchell’s Dance Theater of Harlem. Sua obra inclui peças de câmara, música orquestral e uma ópera, Scourge of Hyacinths, baseada em texto do poeta Wole Soyinka. Em 2021, ganhou o Prêmio Pulitzer de música com a obra Stride.

 

Eleanor Alberga (1949)
Nascida na Jamaica, começou a estudar piano aos 5 anos, com o objetivo de se tornar concertista. Mas a composição se impôs em seu caminho desde o início. Na Inglaterra, foi diretora do London Contemporary Dance Theatre. Seu concerto para piano foi estreado em abril pela Royal Liverpool Philharmonic Orchestra e Domingo Hindoyan.

 

Justinian Tamusuza (1951)
Sua obra combina elementos da música de sua Uganda natal e da tradição europeia. Nos anos 1990, ganhou repercussão após seu Quarteto de cordas nº 1 ser gravado pelo Quarteto Kronos. Outras de suas peças foram escritas para conjuntos como o Imani Winds. Também atua como professor na Makerere University, em Kampala, Uganda.

 

Pamela Z (1956)
A compositora norte-americana recebeu diversas distinções e prêmios. Costuma utilizar linguagem multimídia, com forte impacto visual, em obras escritas para conjuntos como o Quarteto Kronos. Também trabalha com o Bang on a Can, centro de música contemporânea em Nova York, e já escreveu música para a companhia de Pina Bausch.

 

Errollyn Wallen (1958)
A britânica nascida em Belize foi recentemente nomeada pelo Rei Charles III como Master of the King’s Music. Está entre as 20 compositoras mais tocadas no mundo segundo levantamento do site Bachtrack. Destacam-se em sua criação as óperas Four Figures with Harlequin, Look! No Hands!, The Silent Twins e The Lighthouse Wave.

 

Fred Onovwerosuoke (1960)
O autor ganense, filho de pais nigerianos, viajou por todo o continente africano realizando pesquisas sobre as tradições musicais do continente, material que utilizou em muitas de suas obras. Sua criação de maior porte é o ciclo 24 Studies in African Rhythms, símbolo de sua inventiva escrita para piano.

 

Catarina Domenici (1965)
Compositora e pianista, é professora da Universidade Federal do Rio Grande Sul (UFRGS). Integrou o Grupo de Percussão PIAP e tem a música contemporânea como destaque em seu trabalho como intérprete. É autora de obras como a Abertura Anita Garibaldi, Marielle Presente e Letters to my Mother, escrita durante período nos EUA.

 

Valerie Coleman (1970)
Coleman começou sua história na música como flautista. Fundou o quinteto Imani Winds e o conjunto Umana Womama: a proposta é que a experiência individual das integrantes seja o ponto de partida para a construção de programas. Em sua criação, a flauta tem papel predominantes, em obras como Amazonia.

 

Marcos Balter (1974)
Radicado nos Estados Unidos, é professor de composição da Universidade de Columbia e coordenador do Programa de Composição do Tanglewood Music Center. Em 2022, sua obra Oyá, encomendada pela Filarmônica de Nova York, foi apresentada na reinauguração do David Geffen Hall, sala de concertos da orquestra.

 

João Luiz Rezende (1979)
Violonista e compositor, foi membro do quarteto Quaternaglia e hoje vive nos Estados Unidos, onde é diretor de música de câmara na CUNY Hunter College e dá aulas na Stony Brook University e no Mannes College. Entre suas peças mais recentes está The Mountains I Climb, estreada este ano por Fabio Zanon no Teatro Cultura Artística.

 

Jessie Montgomery (1981)
A compositora e violinista já teve sua obra definida pelo Washington Post como "turbulenta, repleta de cores, uma explosão de vida". Escreve para os principais grupos norte-americanos e europeus. Entre suas peças mais recentes estão Hymn, escrita para a Sinfônica de Chicago, e o ciclo de canções Five Freedom Songs.

 

João Carlos Rocha (1983)
Maestro e compositor, estudou na Hochschule Für Musik e Theater Rostock, na Alemanha, e nas universidades de Kentucky e Cincinati, nos Estados Unidos. Nos últimos dois anos, estreou com a Osusp seu Concerto para piano nº 1 e teve a peça Os Jardins Das Praias De Santos gravada pela Orquestra Sinfônica Brasileira.

 

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[Fotos Reprodução/Divulgação]
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