Artistas brasileiros lançam ópera gravada em casa

por Redação CONCERTO 17/08/2020

Uma ópera sobre a peste – gravada em plena pandemia. Assim nasceu a montagem remota de Festim em tempos de peste, do compositor Cesar Cui, que está disponível no YouTube, reunindo alguns dos principais artistas do mundo lírico brasileiro.

Cui é um dos compositores do chamado Grupo dos Cinco, que na Rússia das últimas décadas do século XIX imaginou uma arte que dialogasse com a história do país. Festim foi composta em 1904 e inspirada em texto de Aleksander Pushkin. 

Narra a história de um grupo de pessoas que se reúnem para jantar enquanto lá fora a peste dizima a população. “Pareceu um título ideal para nosso tempo”, conta o diretor André Heller-Lopes. “Sugeri então ao maestro Ira Levin uma montagem feita de maneira remota. Parecia loucura, mas ele topou na hora.”

Para que isso pudesse acontecer, o processo foi cuidadoso. Primeiro, com base na tradução do texto feita por Irineu Franco Perpetuo, Heller preparou uma partitura com uma versão para o português, para que os cantores pudessem estudá-la. Levin, por sua vez, após conversar com os solistas, tocou a ópera completa no piano, registro que serviu de base para os artistas na hora de gravar suas partes em casa.

A partir daí, o diretor deu algumas orientações cênicas aos cantores: a mezzo Luisa Francesconi, a soprano Gabriella Pace, o tenor Giovanni Tristacci, o barítono Vinicius Atique e o baixo Murilo Neves. 

“Eu imaginei uma leitura na qual os personagens estariam no purgatório e pensei nos cantores sendo vistos por trás de vidros, da luz de vela. Fiz algumas fotos em casa e mandei para eles como sugestão”, explica Heller.

Cada um dos cantores precisou criar seu próprio cenário e figurino e gravar a si próprio durante a cena. 

 

“A maior dificuldade foi atuar olhando para o lugar certo, porque os outros personagens não estavam ali. O que ajudou foi ter objetos onde eles estariam. Ainda assim, você canta e reage cenicamente sem ver o que os outros estão fazendo”, conta Francesconi 

“No final das contas, você tem que se aproximar um pouco da linguagem do cinema, preocupando-se com a edição final e não com o trabalho do teatro de prosa, ao qual estamos acostumados. E é algo totalmente novo atuar sem ter noção do resultado final, do todo”, diz Tristacci.

A edição final ficou a cargo de Vinicius Atique. O vídeo estreou há duas semanas no Festival de Inverno On-line da Dell’Arte e agora está à disposição no YouTube (assista a partir de 9 horas e 20 minutos do vídeo).

Segundo Heller, a trupe já se prepara para novo projeto, O imperador de Atlantis, de Viktor Ullmann. Na ópera, a morte se revolta com um imperador que decide que toda a população deve ser armar e lutar entre si até que todos estejam mortos. 

No segundo projeto, mais uma vez um tema bastante atual.  

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