Festival no Theatro Municipal do Rio abre espaço para o treinamento de novos profissionais

por Luciana Medeiros 07/09/2023

A segunda parte da temporada 2023 do Municipal carioca começa em setembro com uma trinca de óperas – duas em concerto cênico e uma, em montagem completa: I Pagliacci, de Leoncavallo. Os espetáculos em concerto são O caixeiro da taverna, de Guilherme Bernstein (dias 11 e 12), e a inédita O sonho de Edgard (dias 13 e 14), de Adriano Pinheiro, que celebra o centenário da Rádio MEC contando a história do seu criador, Edgard Roquette-Pinto. São todas peças curtas, com uma hora no máximo. As duas brasileiras vão estrear em horário alternativo – ao meio-dia, com ingressos a preço simbólico (R$ 2). I Pagliacci sobe ao palco nos dias 15 e 17 de setembro.

O restante da temporada terá, em outubro, o Ballet em coreografias de Ricardo Amarante sobre obras de Gounod, Ravel e Nathaliya Chepurenko; e a orquestra no concerto Dia Mundial da Ópera, em parceria com a Cia. Ópera São Paulo. Em novembro, André Heller-Lopes e Luiz Fernando Malheiro assinam uma produção de La Traviata, de Verdi. E, em dezembro, entra em cartaz o balé O Corsário.

É uma lista pequena de espetáculos, que aposta em títulos bastante conhecidos. Mas há um ponto muito positivo a destacar nesse segundo semestre: os três títulos de setembro formam a série batizada de Festival Oficina de Ópera. O projeto é “voltado para a formação de equipes de criação no Rio de Janeiro”, nas palavras do diretor artístico do Theatro Eric Herrero. “Já estamos fazendo master classes para cantores desde o ano passado. Para as outras áreas, como cenografia, figurino, iluminação, maquiagem, direção cênica, sentimos a necessidade de abrir espaço para jovens de grande talento aprenderem com profissionais da casa.”

Essa é uma grande notícia: nesses três espetáculos, portanto, o Municipal propõe um upgrade nas oportunidades para artistas iniciantes. É alvissareira a ideia. O contato entre artistas e técnicos veteranos, consagrados, experientes, e jovens aprendizes foi, ao longo do tempo, a grande alavanca de renovação. Esse contato, antes estabelecido naturalmente, foi minguando à medida em que equipes se reduziam, espetáculos diminuíam de frequência e financiamentos não permitiam tais iniciativas. Mestres e aprendizes não tinham mais tempo e campo para trocar ideias e burilar talentos, situação ainda mais dramática no caso da ópera – cuja produção reduziu-se drasticamente nos últimos anos.

Resgatando, mesmo que em pequena escala, essa vivência, o Theatro Municipal do Rio pode estar dando início a um programa de continuidade que restaura aprendizados. “Tivemos a ideia de um festival, onde poderíamos fazer um encontro de gerações para o aprendizado. São três jovens equipes formadas por profissionais das áreas artística e técnica, desenvolvendo projetos dentro do TMRJ, com direito a aulas práticas.”

Três diretores cênicos foram convidados para montar e administrar equipes com mestres e aprendizes. “Começamos com palestras, apresentando o projeto, feitas por mim e pela diretora operacional, Adriana Rio Doce”, explica Eric.  Os jovens indicados pelos diretores são oriundos de diversos cursos, como a Casa de Artes der Laranjeiras (CAL) e faculdades de moda, com potencial e desejo de trabalhar em teatro lírico. E os aprendizes receberão cachês, como deve ser, “dentro do patrocínio da Petrobras para a casa”, ressalta o diretor artístico. Analisamos as propostas, currículo e fizemos a seleção”, segue Eric. “Com aprovação das diretorias artística e operacional para esse treinamento, tem sido muito gratificante.”

No âmbito do festival foram treinados dois iluminadores, duas cenógrafas e dois figurinistas, além de dois estagiários na contrarregra. O projeto, segundo Eric, deve ser mantido e até ampliado em 2024.

Os três espetáculos de setembro têm vozes brasileiras de ponta – Homero Velho, Geilson Santos, Carla Rizzi, Licio Bruno –, solistas do Coro da casa e jovens cantores. As regências são de Guilherme Bernstein (O caixeiro da taverna), Priscila Bomfim (O sonho de Edgard) – essas duas com um ensemble da Orquestra –, e Vitor Hugo Toro (I Pagliacci), com a OSTM e o Coro do Theatro.

Homero Velho e Geílson Santos em cena de 'O caixeira da taverna' [Divulgação/Daniel Ebendinger]
Homero Velho e Geílson Santos em cena de 'O caixeira da taverna' [Divulgação/Daniel Ebendinger]

 

Curtir

Comentários

Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não refletem a opinião da Revista CONCERTO.

É preciso estar logado para comentar. Clique aqui para fazer seu login gratuito.