Morreu na manhã deste domingo a soprano Niza de Castro Tank. Um dos nomes mais importantes do canto lírico brasileiro, especialista na obra de Carlos Gomes, ela estava com 91 anos e morreu em casa, durante o sono. O velório será realizado nesta segunda-feira, dia 25, no Cemitério da Saudades, em Campinas. O enterro será em Limeira.
Niza de Castro Tank começou sua carreira nos anos 1950, quando, em São Paulo, foi à sede da Rádio Gazeta para ser ouvida pelo maestro Armando Belardi. Havia sido desaconselhada pelo professor em Campinas, mas fez a viagem mesmo assim.
Sem hora marcada, bateu à porta do maestro e pediu ao menos que a deixasse cantar uma ária. Se não gostasse, ela iria embora e jamais voltaria. Foi contratada antes mesmo do final da audição. E começou a interpretar uma grande variedade de papeis.
Naqueles anos, a crítica especializada registrou o que tornava sua voz tão especial. “Ela tem uma voz magnífica de soprano ligeiro, capaz de emitir com absoluta naturalidade os agudos, os delicados floreios e trinados, no estilo operístico que lhe é como uma segunda natureza”, escreveu José da Veiga Oliveira no Estadão em 1958.
A essa altura, a fama conquistada pelas ondas do rádio já a levava a palcos como o Theatro Municipal de São Paulo, onde cantaria diversos papeis marcantes em sua carreira, como Gilda, no Rigoletto, de Verdi; Lucia, na ópera de Donizetti; Lakmé, na ópera de Delibes; ou a Rainha da Noite, na Flauta mágica de Mozart.
Entre todas essas grandes interpretações destacava-se, no entanto, a dedicação à obra de Antonio Carlos Gomes. Sua Ceci, em O guarani, fez história. Não apenas pela qualidade da interpretação, mas pela forma como ela, adicionando também outros papeis do compositor ao seu repertório, foi uma das responsáveis por difundir suas óperas.
Niza de Castro Tank gravou O guarani em 1958 com o maestro Belardi e, nos anos 1980, registrou a obra em Campinas, com Benito Juarez. Há ainda o registro de um concerto ao vivo em Campos do Jordão, ao lado do tenor Benito Maresca, com a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo e o maestro Eleazar de Carvalho.
Ela também interpretou no palco óperas como O escravo, Condor, Joanna de Flandres, além de ter gravado seu repertório sacro. No início dos anos 2000, ela lançou o livro Minhas Pobres Canções (Editora Algol), fruto de anos de pesquisa realizada na Unicamp, onde foi professora. O volume traz as partituras de quarenta canções, além de dois discos em que cantores, muitos deles seus alunos, interpretam as peças.
Benito Maresca foi um dos grandes companheiros de palco da soprano. Paulo Fortes, Manrico Patassini, Alfredo Colosimo, Maria Henriques, Gloria Queiroz, a lista é imensa. Símbolo de uma geração marcante da ópera brasileira, que nos anos 1950, 1960 e 1970 ajudou a moldar o gosto do público dos grandes teatros.
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