A ópera Matraga, de Rufo Herrera, baseada no conto A hora e vez de Augusto Matraga, de Guimarães Rosa, volta ao palco do Palácio das Artes de Belo Horizonte no dia 25, quase quarenta anos depois de sua estreia. A produção celebra os 90 anos do compositor e contará com a Orquestra Sinfônica e o Coral Lírico de Minas Gerais e a Cia. de Dança Palácio das Artes, sob direção cênica de Rita Clemente e direção musical e regência de Ligia Amadio.
“O conto A hora e vez de Augusto Matraga, a partir do qual Rufo Herrera criou o libreto, foi originalmente publicado em 1946, no livro Sagarana, primeira obra-prima de Guimarães Rosa. É a história de um homem valentão e destemido, ‘duro, doido e sem detença, como um bicho grande do mato’. Por vingança, Nhô Augusto sofre uma emboscada que quase lhe custa a vida. É salvo por Mãe Quitéria, uma negra velha que consegue recuperá-lo por meio da fé cristã. Matraga, então, se encontra com Deus impondo-se uma vida de penitências (‘Jesus manso e humilde, fazei meu coração igual ao vosso…’). Por fim, ao enfrentar o jagunço Joãozinho Bem Bem, morre para salvar a vida de um desconhecido”, escreve Nelson Rubens Kunze em artigo publicado na edição de outubro da Revista CONCERTO.
Para Rita Clemente, o sertão de Guimarães Rosa é “sobre todos nós, nossas idiossincrasias, nossas mazelas e o que tem de mais profundo na natureza humana: o bem e o mal ali, juntinhos. A palavra natureza é a chave! Tudo é natureza na história: grandes abismos, um sol bonito, um horizonte finito e profundo, o riacho que passa e a chuva que tarda em chegar”.
Rita também chama atenção para o caráter humano e contraditório de perceber que a natureza é, ao mesmo tempo, bem e mal. “Isso me parece o mais arquetípico. Além das iconografias deste mundo sertanejo e sua carga de religiosidade e misticismo, muito próximos de nós, mineiros, há algo realmente universal no modo como a história trata o conflito; pois, ao compor um herói torto, não o reduz. No princípio maniqueísta, o conflito se amplia quando, ‘em nome do bem’, o anti-herói é mau. Matraga expõe essas lutas internas e encena o sertão: é beleza, é criação e é morte.”
A trajetória de Rufo Herrera, afirma Ligia Amadio, fala por si: “um artista que absorveu as principais correntes estéticas da música contemporânea latino-americana e, especialmente, da música brasileira e que foi buscar em uma das mais importantes obras literárias de nosso país e, mais especificamente, do estado de Minas Gerais, fonte de inspiração para uma peça que reúne música, balé, teatro e recitação”.
Para ela, a música de Matraga “pontua e veste dramaticamente o roteiro da ação, representando as forças da natureza, a aridez das paisagens, a violência das lutas, a inocência das canções populares, a atmosfera do sagrado e do mágico”.
Veja mais detalhes no Roteiro do Site CONCERTO
Leia mais
Revista CONCERTO “Duro, doido e sem detença”, por Nelson Rubens Kunze
Leia também
Notícias Luiz de Godoy assume posto de professor em Hamburgo
Notícias Tucca anuncia temporada 2024 com Joyce Di Donato e coletivo D-Composed
Notícias Festival Artes Vertentes divulga programação de sua nova edição
Notícias Sala Cecília Meireles realiza Programa de Inovação na Música de Concerto
Notícias Prepare-se: treze destaques da programação da semana
Notícias Javier Perianes faz recitais dedicados à Espanha, no Rio e em São Paulo
É preciso estar logado para comentar. Clique aqui para fazer seu login gratuito.
Comentários
Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não refletem a opinião da Revista CONCERTO.