Palácio das Artes encena ópera baseada em Guimarães Rosa

por Redação CONCERTO 23/10/2023

A ópera Matraga, de Rufo Herrera, baseada no conto A hora e vez de Augusto Matraga, de Guimarães Rosa, volta ao palco do Palácio das Artes de Belo Horizonte no dia 25, quase quarenta anos depois de sua estreia. A produção celebra os 90 anos do compositor e contará com a Orquestra Sinfônica e o Coral Lírico de Minas Gerais e a Cia. de Dança Palácio das Artes, sob direção cênica de Rita Clemente e direção musical e regência de Ligia Amadio.

“O conto A hora e vez de Augusto Matraga, a partir do qual Rufo Herrera criou o libreto, foi originalmente publicado em 1946, no livro Sagarana, primeira obra-prima de Guimarães Rosa. É a história de um homem valentão e destemido, ‘duro, doido e sem detença, como um bicho grande do mato’. Por vingança, Nhô Augusto sofre uma emboscada que quase lhe custa a vida. É salvo por Mãe Quitéria, uma negra velha que consegue recuperá-lo por meio da fé cristã. Matraga, então, se encontra com Deus impondo-se uma vida de penitências (‘Jesus manso e humilde, fazei meu coração igual ao vosso…’). Por fim, ao enfrentar o jagunço Joãozinho Bem Bem, morre para salvar a vida de um desconhecido”, escreve Nelson Rubens Kunze em artigo publicado na edição de outubro da Revista CONCERTO.

Para Rita Clemente, o sertão de Guimarães Rosa é “sobre todos nós, nossas idiossincrasias, nossas mazelas e o que tem de mais profundo na natureza humana: o bem e o mal ali, juntinhos. A palavra natureza é a chave! Tudo é natureza na história: grandes abismos, um sol bonito, um horizonte finito e profundo, o riacho que passa e a chuva que tarda em chegar”. 

Cena da ópera 'Matraga', de Rufo Herrera [Divulgação/Guto Muniz]
Cena da ópera 'Matraga', de Rufo Herrera [Divulgação/Guto Muniz]

Rita também chama atenção para o caráter humano e contraditório de perceber que a natureza é, ao mesmo tempo, bem e mal. “Isso me parece o mais arquetípico. Além das iconografias deste mundo sertanejo e sua carga de religiosidade e misticismo, muito próximos de nós, mineiros, há algo realmente universal no modo como a história trata o conflito; pois, ao compor um herói torto, não o reduz. No princípio maniqueísta, o conflito se amplia quando, ‘em nome do bem’, o anti-herói é mau. Matraga expõe essas lutas internas e encena o sertão: é beleza, é criação e é morte.”

A trajetória de Rufo Herrera, afirma Ligia Amadio, fala por si: “um artista que absorveu as principais correntes estéticas da música contemporânea latino-americana e, especialmente, da música brasileira e que foi buscar em uma das mais importantes obras literárias de nosso país e, mais especificamente, do estado de Minas Gerais, fonte de inspiração para uma peça que reúne música, balé, teatro e recitação”.

Para ela, a música de Matraga “pontua e veste dramaticamente o roteiro da ação, representando as forças da natureza, a aridez das paisagens, a violência das lutas, a inocência das canções populares, a atmosfera do sagrado e do mágico”.

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Revista CONCERTO 
“Duro, doido e sem detença”, por Nelson Rubens Kunze

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