Ópera de Henrique Oswald ganha montagem no Rio depois de 72 anos da única apresentação

por Luciana Medeiros 19/06/2024

Nesta quinta, dia 20 de junho, estreia no Rio de Janeiro Il Néo, ópera escrita por Henrique Oswald (1852-1931) em 1900 e que subiu à cena uma única vez, no centenário de nascimento do compositor, em 1952. O libreto é de Eduardo Filippi, baseado num conto de Alfred de Musset, La Mouche.  A ópera havia sido apenas ouvida em transmissão da Rádio Sociedade, em 1925. A montagem, com Orquestra Sinfônica da UFRJ, fica em cartaz nos dias 20, 21, 22 e 23 no Salão Leopoldo Miguez da Escola de Música (com entrada gratuita) e faz parte do Projeto Ópera na UFRJ, com apoio do Projeto Ópera da Funarte. Será apresentada também no Centro de Tecnologia na Ilha do Fundão (dia 25) e no Teatro Municipal de Niterói (dias 27 e 28, com preços populares). 

Il Néo é uma das três óperas de Oswald. Prolífico criador, escreveu algo como 250 peças: muita música para piano – seu instrumento de formação, primeiro com a mãe, depois em Florença –, música orquestral e vocal, de câmara, canções. E conta-se que o compositor carioca era de uma delicadeza extraordinária no trato. 

Um pouco mais velho do que Alberto Nepomuceno, Alexandre Levy e Francisco Braga, ele foi da geração que adentrou o século XX na transformação das linguagens estéticas. Oswald, próximo do final do Romantismo, premiado na França pela sua peça impressionista Il Neige, seria bem mais tarde desprezado pelos modernistas pela sua opção “europeia” – passou quase três décadas fora do Brasil. 

O resgate de Il Néo – referência a “pinta”, “sinal”, na pele – foi feito pelo mestrando Pedro Messias, da Escola de Música da UFRJ, que rege a montagem. Orientado pelo professor André Cardoso, tratou da editoração dos manuscritos depositados na Biblioteca Alberto Nepomuceno da Escola de Música da UFRJ e no Arquivo Nacional, e se estendeu para a montagem do título.

“Não é uma comédia bufa, mas comédia romântica ou heroica”, define Messias, paulista radicado em Belém do Pará, já com muita experiência no pódio: foi regente assistente de Luiz Fernando Malheiro e de André dos Santos no Theatro São Pedro, exercendo o mesmo cargo no Theatro da Paz, em Belém. “Henrique Oswald tem uma escrita muito imagética, nessa ópera cita Debussy, Ravel, Saint-Säens. E explora os personagens de maneiras muito interessante, com grandes frases expressivas, acordes ricos, mas nada clichê”, avalia.

Com 40 minutos de duração, em um ato dividido em três quadros, a ópera foi classificada por Oswald como “noveletta musicale” e imagina a sedução exercida por uma pinta nas costas de Madame Pompadour, a amante de Luís XV. O personagem masculino, Cavalheiro La Blanche, entrega à cortesã uma mensagem do rei e descobre a pinta, que seria um grande segredo. Apesar do rapaz concordar com o sigilo, Pompadour resolve testá-lo em um baile de máscaras. E, claro, o final é feliz.

André Cardoso também cita a leveza de Il Néo: “É muito bem orquestrada, a música é muito funcional em termos de dramaturgia. Esse é um título muito representativo de uma época em que o Rio fervilhava de produções líricas em muitos teatros, com operetas francesas, a grande temporada italiana. Era um gênero muito popular”. De fato, as “scenas líricas, dramas phantasticos, dramas mágicos, peças alegóricas, elogios dramáticos”, entre outras denominações, ocupavam os palcos e divertiam os moradores da capital do país. “Estão meio esquecidos os títulos dessa época. E essa ópera eu namoro há tempos.”

Pedro Messias entregou, além da partitura orquestral editada, a redução da obra para canto e piano. “Agora, a ópera poderá voltar a ser programada.” E acrescentou ao programa canções de Henrique Oswald, como o Ciclo Ofélia, e três peças instrumentais, que foram inseridas no enredo. “É como se a ópera ganhasse uma abertura e dois balés, uma gavotte e um minueto”, explica o regente. “É uma grande homenagem à música de Henrique Oswald.”

A direção cênica é de José Henrique Moreira, Professor de Direção Teatral e Iluminação Cênica na Escola de Comunicação da UFRJ, com direção geral de Lenine Santos, Homero Velho e Andrea Adour. O elenco é numeroso, formado pelos alunos de canto da Escola de Música. Os principais personagens – Madame Pompadour e Cavalheiro – são vividos por Dhulyan Contente/Amanda Ayres e Robson Lemos/Rodrigo Barcelos.

Veja mais detalhes no Roteiro do Site CONCERTO

Cena da produção da UFRJ de 'Il Néo' [Divulgação]
Cena da produção da UFRJ de 'Il Néo' [Divulgação]

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