George Crumb (1929-2022)

por João Marcos Coelho 07/02/2022

O compositor norte-americano George Crumb morreu ontem, dia 6 de fevereiro, aos 92 anos. Um dos mais importantes e expressivos criadores musicais na cena da segunda metade do século XX, Crumb soube unir o rigor na composição com o estabelecimento de vínculos com temas extramusicais que atraíram fatias de público mais amplo. 

Dois exemplos dão a medida deste procedimento. A primeira é Vox Balenae, A voz das baleias, uma de suas composições mais famosas, de 1971, para flauta amplificada, violoncelo e piano, criada a partir da audição de uma gravação que Crumb ouvira dois anos antes registrando cantos de baleias.

Os músicos devem usar máscaras pretas simbolizando, segundo o compositor, “as poderosas forças impessoais da natureza”. E ele põe entre parênteses “natureza desumanizada”. Sugere ainda que seja tocada num cenário todo azulado, para aumentar o efeito. Um de seus interesses permanentes era explorar a intersecção entre a natureza e o som.

 

Talvez mais do que isso. Há uma constante em toda a sua obra: buscar conexões com outras manifestações, não só naturais, como também das demais artes, e também misturar técnicas e mundos musicais extraeuropeus, populares e folclóricos.

O segundo exemplo interessantíssimo se evidencia nas séries de peças para piano amplificado que intitulou “fantasias” a partir de telas como as de Paul Klee (um dos seus preferidos), mas também de Marc Chagall, Salvador Dalí, Van Gogh, Paul Gauguin, Kandinsky, Klimt, Picasso – um verdadeiro “who’s who” do que houve de mais instigante nas artes visuais da primeira metade do século XX.  

Vale muito a pena ouvir com atenção o CD lançado em novembro passado com os Livros I e II destas “Metamorfoses”, com o pianista italiano Marcantonio Barone (selo Bridge, que aliás lançou grande parte de sua obra ao longo de décadas).

 

Seu nome completo era George Henry Crumb. Nasceu em Charleston, em West Virginia, em 24 de outubro de 1929. Estudou na Universidade de Illinois, com Eugene Weigel e depois, em Berlim, entre 1954 e 55, com Boris Blacher. Estudou na Universidade de Michigan, onde deu aulas de composição por mais de três décadas.

Suas décadas de ouro foram os anos 1960/70. Além da citada Vox Balenae, vale mencionar sua fixação no poeta Federico García Lorca. Sobre poemas dele, Crumb compôs Ancient Voices of Children em 1970, os livros 4 e 5 dos Madrigais (1965/69), Noite das Quatro Luas (1969) e Canções, Dornes e refrões de morte (1968).

Black Angels, de 1970, para quarteto de cordas amplificado é outra de suas peças muito conhecidas e tocadas mundo afora. Grandes intérpretes tocaram e gravaram sua música. Como Pierre Boulez, que estreou e gravou com a Filarmônica de Nova York sua Star-Child, em 1977. 

Laurent Denave, autor de uma polêmica história da música nos Estados Unidos no século XX, afirma que desde o final dos anos 1960 “sua música torna-se claramente mais consonante” mas ressalva que “sua música  permanece, no entanto, bastante original, sobretudo por suas cores sonoras”. Sua música, continua Denave, merece ser ouvida “por causa de suas inovações no nível do timbre”. E conclui: “Se Crumb permaneceu fiel à modernidade, é porém inegável que defende uma modernidade cada vez mais moderada.”

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George Crumb [Reprodução/YouTube]
George Crumb [Reprodução/YouTube]

 

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