No próximo domingo, dia 28, 23 jovens instrumentistas vão ocupar o Parque das Ruínas, em Santa Teresa, no Rio de Janeiro. Eles formam a Orquestra da Grota, que volta a se apresentar na capital do estado depois da pandemia.
Músicos profissionais, todos professores e ex-alunos do Espaço Cultural da Grota (ECG), já vinham realizando alguns poucos concertos presenciais em Niterói (a Grota do Surucucu é uma das comunidades mais pobres e violentas da área) e o evento no Rio é um ponto simbólico de retomada das atividades depois da pandemia.
O programa tem peças de Vivaldi, Villa-Lobos, Copland, Zequinha de Abreu e Fedor Vrtacnik – esse último, compositor de trilhas de cinema e da Broadway, de quem a Orquestra toca a Rapsódia de Natal.
O Espaço Cultural da Grota existe há 26 anos. Fundado por Márcio Selles, músico do Conjunto de Música Antiga da UFF, e pela mulher dele, Lenora Mendes, também musicista do grupo, a ONG tem sido uma alavanca na qualidade de vida da região.
É uma joia de projeto socio-musical. Por conta do trabalho, processaram-se mudanças importantes nas comunidades atendidas. São hoje 18 núcleos, distribuídos pelas regiões de São Gonçalo, Itaboraí e Nova Friburgo; antes da pandemia, mais de mil alunos se beneficiavam das aulas gratuitas de vários instrumentos.
Uma das mudanças que o ECG certamente impulsionou foi a chegada à universidade de mais de quarenta rapazes e moças, fato inédito até então na Grota e arredores. “Não apenas escolas superiores de música”, ressalta. “Diversas áreas de conhecimento. Sabemos que esse impulso teve relação com a atividade do Espaço Cultural”, ressalta o presidente do Espaço Cultural da Grota, Paulo de Tarso.
![Orquestra da Grota [Divulgação]](/sites/default/files/inline-images/Orquestra-da-Grota%281%29.jpg)
Alentos certamente apareceram. Há algum tempo, está num site de colaboração o pedido de recursos para a manutenção em Boston de Kely Pinheiro, que está no Berklee College of Music, cursando, com bolsa integral, o curso de Performance Writing and Production. Violoncelista e arranjadora, nascida em 1998, Kely ainda precisa de U$ 6 mil para atingir a meta de U$ 30 mil que permitirá sua permanência até o fim do curso.
Outro desses talentos revelados é o regente do concerto desse domingo, Katunga Vidal, um dos primeiros alunos do projeto, 26 anos atrás. “Ele também estava para fazer capacitação em Gênova, quando estourou a pandemia. É cria da casa, e um grande músico, assim como a Kely, arranjadora de mão cheia”, garante Paulo.
Entre os próximos compromissos está o concerto de Natal, nos dias 19 e 20 de dezembro, no Campo de São Bento (“o Central Park de Niterói”, brinca o presidente) e no Municipal da cidade, com a participação especial de João Carlos Martins no pódio. Entre os projetos da retomada está o concerto dos 25 anos do projeto, que aconteceria na Sala Cecilia Meireles, além da circulação pelo estado.
A volta está sendo lenta, porque é compreensível a evasão em tempo de isolamento. “Fizemos aulas e performances on-line, mas vários alunos não dispunham de internet, por exemplo”, avalia Paulo de Tarso.
Há uma disposição de retomada, mas ele não sabe exatamente como vai se processar. “A vida mudou para pior. Agora há fome. Muita fome”, lamenta. Os patrocínios da Águas de Niterói e Eletrobras pelo Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac) prosseguem. E Paulo conta, por exemplo, que o ator niteroiense Paulo Gustavo ajudou a instituição no primeiro ano de pandemia. “Ele bancou milhares de cestas básicas que pudemos distribuir às famílias da área. São parcerias de todos os tamanhos que levam à frente o trabalho.”
Clique aqui e veja mais detalhes no Roteiro do Site CONCERTO
Leia também
Notícia Cursos CLÁSSICOS on-line lançam programação de dezembro
Notícia Governo de São Paulo anuncia importante ampliação da Pinacoteca
Notícia Pianista Karin Fernandes lança novo disco com recital no Hotel Toriba
Notícia Guarulhos encena primeira montagem brasileira de ‘Rusalka’
Texto Pianista Juliana Steinbach lembra Nelson Freire, por Jorge Coli
É preciso estar logado para comentar. Clique aqui para fazer seu login gratuito.
Comentários
Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não refletem a opinião da Revista CONCERTO.
Muito boa a matéria da…
Muito boa a matéria da revista. A jornalista conseguiu demonstrar a importância das Orquestras na vida dos jovens de periferia.