DOMENICO SCARLATTI
Integral das sonatas para
teclado – Volume 23
Sergio Monteiro – piano
Lançamento Naxos. Importado.
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Pianista brasileiro radicado nos Estados Unidos, onde é diretor do departamento de piano da Universidade de Oklahoma, Sergio Monteiro tem como uma de suas marcas a inesgotável curiosidade com relação ao repertório. E foi nesse caminho de descoberta que se encontrou com as sonatas de Domenico Scarlatti, sendo convidado pela Naxos para integrar o time de artistas responsável pela gravação das mais de quinhentas sonatas para teclado do compositor. Este é seu segundo disco na série, com uma seleção de 16 sonatas, que tem ajudado a mostrar a importância de Scarlatti, autor que foi fundamental na passagem do barroco para o classicismo e na investigação das possibilidades expressivas do instrumento. Como disse Monteiro em uma recente entrevista, cada sonata revela um mundo sonoro único, que parece não se esgotar com as constantes audições e releituras, reservando sempre novas e estimulantes descobertas. Para tanto, porém, é necessária a presença de um intérprete aberto a explorar essa riqueza, o que Sergio Monteiro faz com incrível musicalidade.
GÓRECKI
Quarteto de cordas nº 3
Sonata para dois violinos
Quarteto Tippett
Lançamento Naxos. Importado.
R$ 66,90
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O compositor polonês Henryk Górecki tem um lugar especial na música do século XX. Como seu conterrâneo Krzystof Penderecki, ele começou a trajetória associado às vanguardas europeias, dialogando com autores como Pierre Boulez. A certa altura, no entanto, abriu mão da relação com escolas de composição para buscar um caminho profundamente individual, com uma linguagem acessível muitas vezes inspirada na herança musical polonesa. Este disco mostra esses dois lados do autor, em interpretações de alto nível técnico e musical do Quarteto Tippett. A Sonata para dois violinos é símbolo de seu período de experimentação na juventude. Já o Quarteto de cordas nº 3 o mostra trabalhando com formas melódicas comoventes. O subtítulo da peça é “Songs are Sung”, canções são cantadas. Sua inspiração é quase espiritual, traçando paralelos com sua obra mais famosa, a Sinfonia nº 3, inspirada em cantos católicos do século XV. Não é por acaso que a obra de Górecki já foi definida por um crítico inglês como uma tentativa de aproximar diferentes épocas – sem abrir mão de falar com nosso tempo e seus dilemas.
THE UNKNOWN DEBUSSY
Rare Piano Music
Nicolas Horvath – piano
Lançamento Grand Piano. Importado. R$ 96,50
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As últimas décadas do século XIX começaram a revelar um novo momento para as artes. Nas artes plásticas, na literatura, na dança e, claro, na música, artistas exploraram texturas, narrativas, movimentos e sonoridades que mostravam um ser humano em transformação em sua relação com o mundo. Claude Debussy foi um autor-chave nesse processo – e sua obra para piano, um microcosmos dessa atmosfera, que ecoa até hoje em partituras como a Suíte Bergamasche, Images ou em seus prelúdios. Professor emérito da Universidade de Liverpool, o musicólogo Robert Orledge quis mergulhar ainda mais nesse universo e selecionou uma série de peças e esboços abandonados pelo compositor, mas que, em sua opinião, ajudam a entender ainda melhor sua obra. Assim, ele recuperou obras como O rei Lear, Prelúdio à história de Tristão ou, então, o ciclo O palácio do silêncio, cujos fragmentos representam uma espécie de síntese da relação de Debussy com o piano. A interpretação cabe ao pianista Nicolas Horvath (grande especialista na obra de Liszt), acompanhado em algumas peças por Florient Azoulay na narração. Fascinante.
ROMANTIQUE
Les Vent Français
Lançamento Warner Classics.
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A lista de músicos que compõem o conjunto Les Vents Français não deixa dúvida: estamos lidando com alguns dos principais artistas da atualidade, como o flautista Emmanuel Pahud, o clarinetista Paul Meyer, o oboísta François Leleux e o pianista Éric le Sage junto a Radovan Vlatkovic (trompa) e Gilbert Audin (fagote). Todos integram orquestras de renome como chefes de seus naipes, como a Filarmônica de Berlim, além de atuarem como solistas à frente de grupos de todo o mundo. São, portanto, guias privilegiados nessa viagem por um repertório pouco conhecido, mas muito cativante. O objetivo é mostrar que, apesar do romantismo estar associado em especial ao piano e aos instrumentos de cordas, também os instrumentos de sopros passam por importante desenvolvimento no período. Isso por causa dos compositores aqui gravados: George Onslow, Louis Spohr e August Klughardt, que na passagem do classicismo para o romantismo, fizeram dos sopros o ponto principal de peças de câmara de enorme riqueza musical e expressiva. O disco é parte de uma elogiada série idealizada pelo grupo, que já lançou Moderniste, além de ter gravado a produção de câmara de Beethoven.
BEETHOVEN: UM NOVO CAMINHO
Andreas Staier – piano
Lançamento Harmonia Mundi. Importado. 2 CDs. R$ 129,90
Dentro da trajetória de Beethoven, o ano 1802 tem importância fundamental. Foi então que ele produziu o Testamento de Heiligenstadt. O documento, de caráter muito pessoal, mostrava uma dualidade que é preciso ter em mente quando se pensa em sua vida e sua obra: por um lado, o desafio e o tormento provocados pela surdez; por outro, o desejo de estar vivo para compor, definindo o gesto de criar como o sentido da existência individual do artista, que com sua obra pode ajudar a forjar um novo mundo. Para um novo mundo, no entanto, era necessária uma nova música. E é nesse caminho que Beethoven embarca. Será logo em seguida, por exemplo, que nascerá a Sinfonia nº 3, com a qual o compositor transforma para sempre o gênero, revolução confirmada pouco depois com a Quinta Sinfonia. Pianista reconhecido por sua interpretação do repertório clássico e do início do romantismo, Andreas Staier mergulha nesse momento para formatar seu novo e impressionante disco, reunindo obras nas quais o compositor começa a se reinventar: as três Sonatas para piano op. 31 e as Variações op. 34 e op. 35 também chamadas Variações Eroica. A riqueza de sua interpretação é tal que nos faz voltar no tempo, como se ouvíssemos pela primeira vez essas obras, testemunhando o nascimento de uma revolução na história da música. E nos lembra mais uma vez o refinado e inteligente intérprete que é Andreas Staier.
CHACONNE
Aniello Desiderio plays Baroque Music
Aniello Desiderio – violão
Lançamento GuitarCoop. Nacional. R$ 36,50
O violonista Aniello Desiderio surgiu no cenário aos 8 anos de idade, revelando um talento que logo faria dele um dos mais importantes artistas de sua geração, que conquistaria os principais prêmios do instrumento e construiria uma sólida carreira. Suas interpretações não são apenas provas de seu virtuosismo, mas também de sua imaginação musical. E este disco é testemunha disso, colocando lado a lado duas visões a respeito da herança musical ibérica. Ele começa com a transcrição de um grupo de sonatas de Domenico Scarlatti, escritas quando ele viveu em Portugal, a partir de 1721, quando era professor da princesa Maria Bárbara de Bragança. E, em seguida, toca a Suíte espanhola, de Gaspar Sanz, composta na passagem do século XVII para o século XVIII, em um arranjo do grande violonista espanhol Narciso Yepes. É uma escolha interessante de peças, que revela múltiplas possibilidades expressivas do violão, em especial quando recriadas por um artista sensível como Desiderio.
SOLFEJO RACIONAL
Bohumil Med
MusiMed. 494 páginas. R$ 79. Desconto de 10% para assinantes.
Bohumil Med nasceu na República Tcheca. Mudou-se para o Brasil, onde integrou a Orquestra Sinfônica Brasileira, foi professor da UniRio, e seguiu para Brasília, atuando na Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional e na Universidade de Brasília. Lá criou a editora MusiMed, que se tornou central em termos de publicação, distribuição e venda de livros relacionados à música (leia mais sobre Med na seção Fermata, na página 16). Seu trabalho como professor também tem destaque, e ele escreveu livros que até hoje são referência. É o caso de Solfejo racional, que ganha agora nova edição. Ler e cantar, ouvir e escrever, como anota o professor e maestro André Cardoso na introdução, são pontos fundamentais para o aluno que deseja dominar o fazer musical. E o livro de Bohumil Med tem ajudado diferentes gerações a entrar nesse universo. É um guia, que se apoia em metodologias filtradas e repensadas pelo autor, que oferece, ainda, uma série de exemplos musicais que ajudam nesse processo. Exemplos que acompanham o livro em uma lista de reprodução digital.
ALÉM DO ROTEIRO
Liquid voices – a história de Mathilda Segalescu
Jocy de Oliveira
Editora Faria e Silva. 152 páginas. Edição bilíngue. Capa dura. R$ 119,90.
Desconto de 10% para assinantes.
A ópera Liquid voices – a história de Mathilda Segalescu se baseia no episódio real do navio Struma, que saiu da Europa em direção à Palestina em 1942 e foi bombardeado no Mediterrâneo. A partir desse fato, a compositora Jocy de Oliveira criou a história de um pescador árabe que encontra o fantasma de uma das passageiras, uma cantora lírica. É um projeto original: Jocy criou a ópera para o cinema, reforçando seu interesse pelo diálogo entre as artes e linguagens. Com o tenor Luciano Botelho e a soprano Gabriela Geluda, as filmagens acontecerem entre 2017 e 2018 no Rio de Janeiro. E a produção logo viajou o mundo, sendo premiada em festivas em Londres, Nice, Varsóvia e Madri. Nesta bonita edição, estão disponíveis tanto o roteiro original quanto a partitura, além de uma seleção de fotos. De especial interesse é a apresentação em que Jocy de Oliveira explica o processo de composição, da ideia original à realização da filmagem. Haverá lançamento digital do filme dia 2 de julho nas plataformas Now, VivoPlay e Looke.