CONCERTS FOR MALLET INSTRUMENTS
Obras de Alrich, Rorem e Jenkins
Evelyn Glennie – percussão
City Chamber Orchestra of Hong Kong
Jean Thorel – regente
Lançamento Naxos. Importado.
R$ 80,30
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Evelyn Glennie reúne neste novo disco três concertos escritos para instrumentos de percussão tocados com baquetas (mallet instruments). E o fato de que todos foram escritos para ela é prova da importância que a artista conquistou no cenário, dando à percussão e ao repertório para o instrumento novas e interessantes facetas. O Concerto para marimba de Alex Alrich, por exemplo, foi estreado por ela e pela City Chamber Orchestra of Hong Kong, que a acompanha no disco. É uma peça interessante pelo modo como mistura o minimalismo americano e a música asiática, com um último movimento cuja energia leva a solista ao limite. Já La folia, de Karl Jenkins, remonta à música barroca como ponto de partida para sonoridades de grandes coloridos. E o Concerto de Ned Rorem utiliza quatro diferentes instrumentos e cria, a partir dessa riqueza, uma partitura dinâmica e, em muitos momentos, dramática. São obras fascinantes, marcadas pela interpretação de Glennie e que provam novamente seu papel de destaque na cena atual.
STRANGERS IN PARADISE
Obras de Enescu, Prokofiev, Ravel e Yasaÿe
Diana Tishchenko – violino
Zoltán Fejérvári – piano
Lançamento Warner Classics.
Importado. R$ 161,70
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A violinista ucraniana Diana Tishchenko provocou sensação na crítica e no público ao vencer, em 2018, o Concurso Long-Thibaud-Crespin, em Paris. Na imprensa, falava-se em um início promissor – e que se cumpre já neste seu primeiro disco para o selo Warner Classics, em que ela interpreta três obras marcantes da primeira metade do século XX. Há, entre a Sonata nº 2 de Ravel e a Sonata nº 3 de Enescu, alguns pontos de contato. O compositor francês absorve, em sua escrita, elementos do jazz, assim como Enescu faz uso de elementos do folclore romeno em sua peça. Em ambos os casos, no entanto, a inspiração é apenas o ponto de partida para obras de enorme riqueza técnica e sonora, que Tishchenko recria com imensa energia e inteligência musical. Já na Sonata nº 1 de Prokofiev, chama atenção o modo como a violinista e o pianista Zoltán Fejérvári exploram os coloridos sombrios de uma das mais dramáticas peças do compositor, estreada em 1947. Prokofiev falava que o primeiro movimento soava como o vento passando por um cemitério: e a leitura aqui dos artistas parece nos fazer sentir o frio na pele.
MOZARTIANA
Rarities and arrangements performed on historical keyboards
Michael Tsalka – piano
Lançamento Grand Piano. Importado. R$ 133,80
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Ao longo das últimas décadas, a pesquisa histórica nos ensinou a ouvir de maneira diferente boa parte do repertório musical. O retorno ao período original em que obras foram criadas não apenas ofereceu lições de interpretação, como ressaltou a ideia de que interpretar uma peça musical é resgatar toda uma época, suas ideias, seus valores, em diálogo entre música e história. E não parece haver limites nesse processo de redescoberta, como nos mostra o disco do pianista Michael Tsalka, ex-aluno de Charles Rosen e importante professor com carreira em instituições chinesas. Ele selecionou um grupo de peças raras de Mozart, algumas incompletas, outras esquecidas, e as gravou em dois instrumentos de meados do século XVIII. O ponto alto do álbum é o balé-pantomima Pantalon und Colombine – não apenas pela chance de ouvir um Mozart desconhecido, mas pela oportunidade de ser transportado para séculos atrás por meio da sonoridade dos instrumentos, que Tsalka domina com maestria. É um daqueles discos a demonstrar o poder da música de relativizar nossa relação com o tempo.
STRAUSS: LIEDER
Diana Damrau – soprano
Symphonieorchester des Bayerischen Rundfunks
Mariss Jansons – regente
Helmut Deutsch – piano
Lançamento Erato. Importado.
R$ 176,20
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As Quatro últimas canções de Richard Strauss estão entre as mais importantes obras vocais do repertório. Não nasceram como um ciclo, mas foram reunidas após a morte do compositor. Compartilham, afinal, a mesma temática, o sentimento de um fim que se aproxima, mas passa a ser encarado com calma, aceitação e plenitude. O exemplo perfeito é a terceira canção, Im Abendrot, em que a voz da soprano irrompe, transformando o que é triste e melancólico em lírico e doce. Em passagens como essa e tantas outras, cabe à intérprete encontrar maneiras de evocar a riqueza de sentimentos e contrastes das obras. E Diana Damrau, uma das principais sopranos da atualidade, se une agora à lista de cantoras a emprestar delicadeza e suavidade às canções, acompanhada pela regência sensível de Mariss Jansons à frente da Symphonieorchester des Bayerischen Rundfunks. O álbum traz ainda uma seleção de canções para voz e piano, com acompanhamento de Helmut Deutsch, e uma imperdível versão de câmara para Morgen. De tirar o fôlego.
BEETHOVEN: Sinfonias 1-5
Le Concert des Nations
Jordi Savall – regente
Lançamento AliaVox. Caixa com 3 CDs. Importado. R$ 401,40
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Jordi Savall entende a música como diálogo entre diferentes épocas, mundos, culturas, sempre a partir de pesquisas que mostram a riqueza e a atualidade do repertório que aborda. Suas leituras, assim, são ansiosamente aguardadas. E não havia como ser diferente quando ele anunciou o plano de registrar as sinfonias de Beethoven, das quais agora são lançadas as cinco primeiras. Ele atua à frente de seu grupo Le Concert des Nations, ao qual se juntaram jovens músicos de diferentes países. E o resultado é um dos frutos mais estimulantes do Ano Beethoven, quando se celebraram os 250 anos do compositor. A abertura da Sinfonia nº 3, Eroica, ou os primeiros acordes da Sinfonia nº 5, em especial em contraste com a leitura transparente da Sinfonia nº 4: o que Savall nos propõe é a chance de redescobrir obras icônicas do repertório à luz da sensibilidade de artistas que, ao se propor gravar as obras, quiseram começar o trabalho do início, reencontrando cada passagem como se fosse pela primeira vez. Como é costume nos trabalhos discográficos Jordi de Savall, o álbum é acompanhado de um pequeno livreto com reflexões e textos que ajudam a compreender não apenas as obras, mas o conceito filosófico com o qual os artistas se aproximam delas. E, com isso, apenas se reforça a noção de que fazer música é trabalhar com ideias, um dos credos do maestro.
BELIEVE
Andrea Bocelli – tenor
Lançamento Universal. Nacional. R$ 49,10
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Em uma entrevista recente, o tenor italiano Andrea Bocelli explicou o conceito por trás de seu novo disco: “É uma coleção de peças ligadas à espiritualidade. O repertório pode parecer variado, combinando obras de compositores clássicos com canções populares, mas há um ponto em comum: o desejo, de alguma forma, de ser um remédio para a alma, independentemente de crença religiosa. O que busquei foi oferecer um momento de descanso, de otimismo, esperança. É disso que se trata Believe, de compartilhar um sentimento de alegria”. Entre as faixas, estão You’ll Never Walk Alone, Hallelujah, Amazing Grace (em dueto com Alison Krauss e em versão solo), Angele Dei (peça instrumental inédita de Puccini que recebeu novo texto), uma Ave-Maria, escrita pelo próprio Bocelli, e Preghiera, de Paolo Tosti. Bocelli é acompanhado em algumas faixas por uma pequena orquestra e, em outras, pelo piano, em arranjos líricos e delicados. Um destaque é a participação da mezzo soprano Cecilia Bartoli, uma das grandes cantoras de nosso tempo, especializada na música barroca. Juntos, ela e o tenor interpretam duas canções que são fortes concorrentes a melhores do álbum: I Believe e Pianissimo, delicada composição inédita do compositor italiano Enio Morricone.
TEMPO TÁTIL
Vladimir Safatle – piano
Caroline de Comi – soprano
Cristine Guzze – mezzo soprano
Renan Vitoriano – violino
Ivan Nascimento – fagote
Lançamento Selo Sesc. Nacional. Disponível apenas por streaming nas principais plataformas e no Sesc Digital.
Com o recente lançamento de Músicas de superfície, com obras dos anos 1990 que ficaram guardadas por mais de uma década, o filósofo Vladimir Safatle demonstrou a vitalidade de seu trabalho com a música, como autor e intérprete. O álbum desconstruía a relação entre piano e voz – e essa nova forma de compreender as relações do discurso musical também estão presentes em seu novo trabalho. No novo disco, o objetivo, explica Safatle, é criar “expressões estranhas à gramática de afetos que colonizam nossas formas de experiências”. É o que acontece em faixas como Três peças para gestos ao piano, na qual, diz o compositor, “o corpo expressivo que nasce com o piano” precisa “não temer se descompor, fibrar-se, como a forma suprema de sua expressão”. O disco propõe, assim, uma investigação estética e filosófica. As obras são lançadas individualmente, a cada 15 dias, sempre às sextas-feiras, até finalizar em 19 de março. Inicialmente, ao todo, serão cinco singles.
COLEÇÃO MIGNONE
Mignone e orquestra III
Orquestra Sinfônica Brasileira
Francisco Mignone – regente
Souza Lima – pianista
Lançamento independente. Nacional. R$ 40,50
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Se nem sempre a história de artistas brasileiros é preservada, no caso do compositor, maestro e pianista Francisco Mignone esse risco já foi superado. A Coleção Mignone, idealizada pela sua viúva, a pianista Maria Josephina Mignone, tem realizado importante trabalho de resgate de sua obra e sua atuação, com o lançamento de gravações históricas de suas peças, na maior parte das vezes pelo próprio artista. Depois de uma série histórica de CDs dedicada à produção para piano solo do compositor, a coleção voltou-se ao mundo orquestral. E o terceiro volume traz duas obras marcantes em interpretações célebres: Fantasia brasileira para piano e orquestra nº 1 e Fantasia brasileira para piano e orquestra nº 2, gravadas com Mignone à frente da Orquestra Sinfônica Brasileira, tendo como solista um dos mais importantes músicos brasileiros do século XX, o pianista Souza Lima. O álbum tem ainda Seis prelúdios, Festa das igrejas e Congada, fechando um disco representativo da obra do compositor. E deixando claro que a compreensão da música brasileira do século XX precisa passar pelo seu importante trabalho.
GERALDO VESPAR – 20 Estudos populares brasileiros
Paulo Martelli – violão
Lançamento Guitarcoop. Nacional. R$ 36,50
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Geraldo Vespar estudou na Escola de Música da Universidade do Rio de Janeiro e em seguida foi para os Estados Unidos, onde passou pela Berklee School of Music, em Boston, e pela Manhattan School of Music, em Nova York. De volta ao Brasil, atuou como instrumentista, arranjador, compositor, tocou em rádios, gravou com Radamés Gnattali, realizou turnês com orquestras no Brasil e na Europa. E atuou com destaque na música popular brasileira durantes os anos da Bossa Nova. Para resgatar figura tão importante, o violonista Paulo Martelli recupera e grava uma das suas obras mais importantes: o conjunto dos seus 20 Estudos populares brasileiros. São obras fascinantes. De um lado, revelam--se provas do domínio técnico que Vespar tem do instrumento e suas possibilidades expressivas; de outro, mostram a sensibilidade com que ele realiza o que a apresentação do CD define como “compêndio de ritmos, harmonias e melodias, com forte influência do jazz”. Um álbum marcante, pelas obras e pela interpretação de Martelli, nome de destaque do violão do cenário atual.
VILLA-LOBOS: TRIOS
Antonio Meneses – violoncelo
Ricardo Castro – piano
Cláudio Cruz – violino
Gabriel Marin – viola
Lançamento Selo Sesc. Nacional. Disponível apenas por streaming nas principais plataformas e no Sesc Digital.
A gravação de ciclos completos de obras costuma ajudar na compreensão da trajetória de um compositor. Afinal, pelo modo como aborda ao longo do tempo um mesmo gênero, é possível ver como sua sensibilidade e sua técnica vão se transformando. Se essa gravação reúne alguns dos maiores músicos da atualidade, então temos o melhor dos mundos. E é por isso que o disco em que o violoncelista Antonio Meneses, o violinista Cláudio Cruz, o pianista Ricardo Castro e o violista Gabriel Marin interpretam os trios de Villa-Lobos já nasce histórico. Nele, estão os três trios escritos entre 1911 e 1918 para piano, violino e violoncelo, com a reação bastante pessoal do compositor à influência francesa; e o trio de cordas, para violino, viola e violoncelo, obra de maturidade, dos anos 1940. São interpretações riquíssimas em ideias musicais, já referência na leitura das obras, e que oferecem ao ouvinte o prazer de ouvir o diálogo musical vibrante entre esses mestres da música brasileira.
LINGUAGEM DO ESPÍRITO
Uma introdução à música clássica
Jan Swafford
Companhia das Letras. 368 páginas. R$ 94,90. Desconto de 10% para assinantes.
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O Wall Street Journal definiu Linguagem do espírito como “um livro perfeito para quem quer conhecer a música clássica, mas de alguma maneira se sente intimidado por ela”. A definição é precisa. Compositor e biógrafo de autores como Brahms, Jan Swafford se propõe a repassar toda a história da música clássica de maneira simples, objetiva, com texto voltado ao leitor leigo. Mas, como o próprio nome do livro diz, não se trata de listar compositores e obras mais marcantes; trata-se, acima de tudo, de mostrar o papel que a música tem na sociedade desde seus primórdios, encontrando pontos de transformação que nos ajudam a compreender como a música, ao mesmo tempo, fala conosco individualmente e ajuda a entender a história da humanidade. É uma leitura agradável, repleta de insights que, com certeza, vai despertar o interesse daqueles que pretendem conhecer a música clássica. E que propõe novas camadas de leitura para quem já se dedica ao gênero.
AS SOCIEDADES MUSICAIS FRANCESAS DO INÍCIO DO SÉCULO XX
Danieli Veronica Longo Benedetti
Alameda Editorial. 296 páginas. R$ 62,00. Desconto de 10% para assinantes.
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Na academia e no palco, a pianista, pesquisadora e professora Danieli Veronica Longo Benedetti fez da música francesa seu principal campo de atuação. E, neste livro, ela narra uma das mais fascinantes histórias desse tema: a das sociedades musicais francesas do início do século XX. “Elas representaram um importante instrumento agregador e de luta pela criação da música contemporânea francesa. Esses agrupamentos apresentaram em primeira audição obras referenciais de compositores como Claude Debussy, Maurice Ravel, Gabriel Fauré e tantos outros. A certeza de terem suas obras apresentadas significou para esses músicos uma motivação concreta de trabalho, oferecendo ainda um espaço sem precedente aos vários intérpretes aqui mencionados, responsáveis por uma quantidade impressionante de performances e estreias, amplamente documentada pela crítica especializada da época”, explica na apresentação. A obra faz um histórico das sociedades e suas contribuições, ao mesmo tempo que oferece uma reflexão sobre as ideologias que motivaram sua criação, que segue relevante ainda hoje. Leia mais na coluna Música Viva, de João Marcos Coelho.