LA NUIT TRANSFIGURÉE
Trio Karénine
Lançamento Mirare. Importado. R$ 152,80
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Criado em 2009, o Trio Karénine, batizado com o nome da personagem de Tolstói, desenvolveu uma rápida trajetória ascendente no cenário musical. Em 2013, o grupo – formado por Charlotte Juillard (violino), Louis Rodde (violoncelo) e Paloma Kouider (piano) – venceu a concorrida competição da ARD em Munique. E desde então mostra enorme versatilidade na escolha do repertório, como nesse novo álbum em que interpretam transcrições de obras de Schönberg, Liszt e Schumann. Noite transfigurada, de Schönberg, aparece na versão de Eduard Steuermann, que no começo do século XX criou uma sociedade de concertos em Viena, na qual grandes obras do período ganhavam versões camerísticas. De Liszt, o grupo toca Tristia, que o compositor arranjou a partir de Vallée d’Obermann, peça para piano que integra a série Anos de peregrinação. E, de Schumann, as Seis peças em forma de cânon, também criadas a partir da versão para piano solo. A riqueza da interpretação do trio, com especial atenção ao modo como Paloma Koudier extrai do piano sonoridades amplas e basicamente orquestrais, nos faz quase esquecer os originais, tamanha a originalidade do olhar dos músicos.
LOUISE FARRENC
Music for Violin & Piano
Daniele Orlando – violino
Linda di Carlo – piano
Lançamento Brilliant Classics. Importado. R$ 80,90
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Louise Farrenc foi aluna de piano de Johann Nepomuk Hummel, e seu virtuosismo ao instrumento a levou à atuação, durante três décadas, como professora do Conservatório de Paris. Respeitada como mestra, sua obra como compositora ficou durante muito tempo relegada a segundo plano, ainda que à época tenha sido celebrada por grandes intérpretes como o violinista Joseph Joachim, que integrou o grupo responsável pela estreia de seu Noneto. O recente processo de resgate de compositoras, no entanto, tem permitido um novo olhar para sua produção. De um lado, há grandes peças para piano solo e, de outro, uma produção camerística de altíssimo valor. Entre os responsáveis por esse resgate estão os italianos Daniele Orlando e Linda di Carlo, professores do Conservatório de Perugia. Juntos, já participaram do registro de obras de câmara da autora e, agora, gravam sua produção para violino e piano. É um conjunto de obras diversificado, em que se destacam as Variações concertantes ou as duas sonatas, que demonstram tanto a proeza técnica quanto a inspiração de Farrenc, autora que cada vez mais se torna uma referência no repertório francês do período.
SCHUBERT
Rarities and Short Piano Music
Wojciech Waleczek – piano
Lançamento Naxos. Importado. R$ 75,40
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Professor da Universidade of Silesia in Katowice, na Polônia, Wojciech Waleczek alia atividade pedagógica com extensa atuação como recitalista e solista, em uma carreira que já o trouxe inclusive ao Brasil, onde tocou com a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional e com a Orquestra Sinfônica Brasileira. São duas facetas às quais deve se somar mais uma: a de pesquisador de repertório, pois foi justamente seu interesse por obras menos conhecidas que deu origem a seu novo álbum, com raridades da produção pianística de Franz Schubert. Raridades, sim, de valor extraordinário para compreender a formação do compositor. Fugas ou Esboços em forma de fuga, por exemplo, nascem a partir de seu estudo com Antonio Salieri, músico cuja influência em seu tempo e nas gerações seguintes torna-se aqui particularmente evidente, enquanto a Fantasia evoca sua admiração por Mozart. Já o Allegro foi sua primeira incursão, inacabada, pela forma da sonata para piano, gênero no qual mais tarde ele demonstraria maestria, com obras como as três últimas sonatas, peças incontornáveis do repertório do século XX. Um Schubert em formação, que nos permite vislumbrar os caminhos do mestre.
IN SPIRITUM
Music for Cello and Bandoneon
Federico Bracalente – violoncelo
Daniele di Bonaventura – bandoneon
Lançamento Brilliant Classics. Importado. R$ 80,90
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A combinação de sonoridades está no centro da criação musical. É muitas vezes desse diálogo que nascem significados na escrita e também na fruição de obras. E esse jogo pode estar presente nas formações instrumentais originais de uma peça ou em arranjos e transcrições. O disco do violoncelista Federico Bracalente e do bandoneonista Daniele di Bonaventura é um bom exemplo. Ambos se voltaram ao repertório dos séculos XV e XVI, a peças de autores como Alexander Agricola, Eliseo Ghibellini, Jean Mouton e Giovanni Pierluigi da Palestrina. São obras vocais, que ganham aqui novas vozes: além do violoncelo, as duas mãos que no bandoneon oferecem registros diferentes. O resultado sonoro é impressionante em peças como Adieu mon amour, de Agricola, Jesu, rex admirabilis, de Palestrina, ou Tu dormi et amor veglia per mio danno, de Ghibellini. E torna-se ainda mais interessante com os improvisos que os dois intérpretes – Bracalente, novo nome do cenário musical italiano, e Di Boaventura, experiente jazzista – incorporam em suas leituras.
HENRIQUE OSWALD / SAINT-SAËNS: CONCERTOS PARA PIANO
Clélia Iruzun – piano
Royal Philharmonic Orchestra
Jac van Steen – regente
Lançamento Somm. Importado. R$ 126,90
O interesse da pianista Clélia Iruzun pelo repertório brasileiro é marcante, e nos últimos anos ela se voltou especialmente à criação do compositor Henrique Oswald , depois de dedicar--se a autores como Francisco Mignone e Claudio Santoro, entre tantos outros. Em 2020, registrou o Quinteto para piano do compositor, ao lado do Coull Quartet, e agora lança uma gravação excepcional do Concerto para piano do compositor, à frente da Royal Philharmonic Orchestra e com regência do maestro Jac van Steen. Oswald foi figura central do romantismo brasileiro, símbolo das décadas finais do século XIX, em que o gosto musical no Brasil passou a incluir não mais apenas a ópera, mas a música de câmara e a linguagem sinfônica, abrindo caminho para a criação no século XX. Seu Concerto para piano é prova da intensidade e da inventividade de sua escrita, pareando-se a grandes obras do gênero, em especial quando interpretado com inteligência e páthos, como neste álbum, que traz ainda o Concerto para piano nº 5 de Saint-Saëns, batizado de Egípcio, uma vez que o compositor o idealizou durante uma visita ao Cairo. É uma combinação perfeita – e biográfica. Afinal, o compositor francês e Oswald foram amigos, conviveram e se apresentaram juntos na Europa em diversas oportunidades, estabelecendo assim um paralelo interessante.
ARTHUR BARBOSA: 24 CAPRICHOS LATINO-AMERICANOS
Emmanuele Baldini – violino
Lançamento independente. Nacional. Preço a definir
Homenagear a América Latina e sua diversificada gama de ritmos e cores musicais numa obra para violino solo que abrangesse o mais representativamente possível toda esta diversidade, foi esse o objetivo do compositor Arthur Barbosa ao escrever seus 24 caprichos latino-americanos, gravados pelo violinista Emmanuele Baldini, spalla da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, cujo interesse pelo repertório brasileiro revela um olhar sem preconceitos estéticos. A comparação com os 24 caprichos de Paganini é inevitável e proposital, no sentido de valorizar a música latino-americana utilizando o virtuosismo de um instrumento tão europeu como o violino. “A obra não tem a intenção de ser literal na abordagem de cada ritmo representado e, claro, não esgota a diversidade musical do continente, até por ela ser muito mais vasta e quase impossível de catalogar em sua totalidade, mas tenta representar diversas regiões do continente”, explica o compositor. Assim nascem peças como Maracatu, Aboio, Tango, Milonga, Frevo, Chorinho, Mariachi, Salsa, Bolero e tantas outras que, ouvidas em conjunto, oferecem a oportunidade de uma viagem vertiginosa pelo continente e sua formação cultural.
A ARTE NOS SONHA
De Carlos Netto
Editora Escuta. 300 páginas. R$ 120,00. Desconto de 10% para assinantes.
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Duas epígrafes ajudam a explicar o sentido do livro de Carlos Netto. Ele cita o filósofo francês Daniel Sibony, para quem “a arte é o ser em movimento”. E Robert Schumann, que afirmou certa vez ser “tocado por tudo o que acontece no mundo”, o que o fazia “sentir vontade de expressar meus sentimentos”. “A arte expressa nossas vivências naquilo que lemos, ouvimos e produzimos. A arte tem vida própria a partir do significado que cada um constrói”, escreve o autor. Cada capítulo do livro é dedicado a uma obra marcante, associada a uma sensação, uma ideia ou um valor. Abrem o livro o Adágio de Albinoni e uma reflexão sobre a reprocidade. O prelúdio de Tristão e Isolda, de Wagner, é o mote para falar de paixão. Com Oblivión, de Piazzolla, o assunto gira em torno da memória. A Sinfonia nº 3 de Saint-Saëns nos ajuda a refletir sobre a amizade. E a lista continua. De Debussy, Clair de lune (natureza); de Gershwin, Porgy and Bess (fé); de Tchaikovsky, a Sinfonia nº 6, Patética (destino); de Górecki, a Sinfonia nº 3 (arte); de Mahler, a Sinfonia nº 5 (intensidade); de Beethoven, a Nona sinfonia (propósito). E esses são apenas alguns exemplos. “Esse não é um livro voltado apenas para quem tem conhecimento de música clássica. A ideia é estimular a reflexão pessoal e construção de repertório que pode ser útil na vida profissional e pessoal, diante dos desafios humanos vividos pelos compositores. O fio condutor entre os capítulos, com suas respectivas histórias, procura mostrar que aquilo que fazemos é resultado de quem somos. Nossa ação revela o que sentimos, nosso estado de espírito e motivações, além da qualidade daquilo que realizamos e criamos”, explica o autor. Na apresentação, o maestro João Carlos Martins oferece olhar sobre o livro. “A arte nos sonha quer chegar ao fundo da mente de um compositor e procura mostrar o que a alma de um artista pode transmitir a outro ser humano”, escreve o maestro João Carlos Martins na apresentação da obra. Um QR Code permite acessar as obras. As ilustrações são do artista Elifas Andreatto.