Morre no Rio de Janeiro a pianista e empresária Rosana Martins

por Redação CONCERTO 02/07/2020

A pianista, empresária e produtora Rosana Martins morreu na madrugada desta quinta-feira, dia 2, no Rio de Janeiro. Ela sofreu um enfarte fulminante.

Sua trajetória ao piano teve início nos anos 1950 e, no começo dos anos 1960, ela venceu os primeiros concursos e começou a se estabelecer como uma das principais promessas do piano brasileiro.

“Há um ano, a gentilíssima garota que é Rosana Martins ganhava o primeiro prêmio, por unanimidade, do Concurso Internacional de Berlim. Ela hoje ainda não parece ser menos menina do que antes”, iniciava um comentário publicado no Correio da Manhã em agosto de 1961 sobre uma apresentação com a Orquestra Sinfônica Brasileira, na qual tocou o Concerto K. 271 de Mozart, com regência de Alceo Bocchino. 

“Mas verifica-se perfeitamente por essa apresentação que Rosana Maria Martins é mais um caso fenomenal de dons intuitivos, de instinto que adivinha, por misterioso e obscuro processo de herança, os segredos interpretativos da música de Mozart, do que de precocidade pianística, no sentido técnico e estrito do termo. Certamente é também uma pianista precoce, das mais precoces a que temos assistido, mas o piano funciona para ela como veículo de sua voz interior. Seu piano é puro, de uma pureza que conduz o gênio de Mozart, com bastante propriedade, a expansões de graça inocente. Mas que também o aprofunda em rasgões imprevistos de fantasia, de sentimento verdadeiramente poético”, continuava o texto assinado por Eurico Nogueira França.

Rosana Martins estava, então, com 12 anos. A música vinha de casa. Sua mãe havia estudado canto lírico e, do avô, ganhou aos dois anos um pianinho de brinquedo. A avó lhe ensinou a ler música e, um dia na praia, ao desenhar na areia notas musicais, chamou atenção de uma professora, Maria de Lurdes Vidal, que passou a orientá-la. Aos seis anos, ganhou um concurso da TV Tupi, patrocinado por uma marca de mamadeiras, onde conheceu Nelson Freire, então com nove anos, como lembrou em entrevista exclusiva concedida a Alexandre Dias, do Instituto Piano Brasileiro. 

 

Em seguida, Rosana passou a estudar com Friedrich Egger, Arnaldo Estrella, Nise Obino, Homero Magalhães. Passou um período na Inglaterra e, orientada por Arthur Rubinstein, mudou-se para os Estados Unidos, onde estudou com Mieczyslaw Munz. Logo após vencer o concurso em Berlim, gravou os Papillons de Schumann e Poissons D’Or, de Debussy. E, em 1969, lançou um LP no qual interpretava sonatas de Mozart: a K. 331 e a K. 332. O disco foi gravado nos Estados Unidos e recebeu o prêmio de melhor gravação do ano pelas revistas Stereo Review e a High Fidelity. 

 

Aos 18 anos, no entanto, resolveu abandonar a carreira de pianista. Passou, então, a trabalhar como empresária e produtora, em especial no mundo das gravações, com grandes artistas como Sviatoslav Richter, Bruno Gelber, Georg Cziffra. Décadas depois, lançou um projeto com quarenta e uma gravações de Arthur Moreira Lima. Nos últimos anos, trabalhou ao lado de Nelson Freire, amigo de longa data. “Uma das grandes felicidades que tenho é minha amizade com Nelson e poder escutá-lo.”

Rosana Martins com o pianista Nelson Freire [Acervo Pessoal]
Rosana Martins com o pianista Nelson Freire [Acervo Pessoal]

 

Curtir

Comentários

Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não refletem a opinião da Revista CONCERTO.

Estou sem palavras para expressar minha consternação com o falecimento de minha querida prima, descendente de meu tio-avô, com quem mantinha freqüente comunicação pelo whatsapp....muita tristeza!

É preciso estar logado para comentar. Clique aqui para fazer seu login gratuito.